V. 15 N. 1
“Educação e processos identitários” constituiu o tema central da chamada de artigos para o v. 15, n. 1, ano de 2010 da Revista Conjectura. Com esse foco pretendeu-se dar relevo aos desafios da educação contemporânea, tendo como viés os processos identitários que transversalizam as práticas educativas cotidianas. Como resposta, os vários artigos aqui publicados, resultado de pesquisas concluídas e/ou em andamento, trazem à cena educativa alguns possíveis entrelaçamentos estabelecidos nos processos educativos formais, não formais e informais.
Nas análises presentes no conjunto dos artigos, observam-se múltiplas pertenças seduzindo o olhar dos pesquisadores, fazendo emergir reflexões que tomam como pano de fundo os aspectos culturais, sociológicos, políticos, filosóficos, históricos e antropológicos das práticas educativas.
Considerando que os processos identitários acontecem e se desenvolvem nos vários domínios da vida social e que já não é mais possível falar em identidades unificadas, faz sentido observar a educação através de vários ângulos, combinando olhares entre: educação e as identidades de gênero; educação e as identidades juvenis; educação e as culturas da infância; educação e as identidades docentes; educação e as identidades étnicas e religiosas; educação e as identidades narrativas; educação, currículo e identidades narrativas.
Através das suas reflexões, os autores dos dez artigos e das duas resenhas impressas neste volume nos possibilitam transitar por um panorama diverso de relações possíveis entre educação e processos identitários. Eles nos apresentam suas reflexões, seus pontos de partida e os caminhos percorridos na busca de respostas possíveis, construídas em seus percursos investigativos. Começando pelo artigo de Ana Lúcia Leal, Ferdinand Röhr e José Policarpo Júnior “Resiliência e espiritualidade: algumas implicações para a formação humana” temos acesso a uma interessante reflexão sobre algumas alternativas de enfrentamento do caráter multidimensional, imprevisível e imediatista do cotidiano escolar, valendo-se da resiliência e da espiritualidade como elementos importantes a serem considerados na formação do professor.Milena Aragão e Lúcio Kreutz trazem para debate acadêmico a posição da Educação Infantil na sociedade e na cultura, analisando as representações culturais sobre a mulher professora no processo de construção de sua identidade profissional. Através do artigo “Considerações acerca da Educação Infantil: história, representações e formação docente”, os autores analisam as questões de gênero presentes ao longo da história, especialmente na identidade dos docentes que atuam na primeira infância.
Ainda com foco na Educação Infantil, João Alberto da Silva e Júnior Saccon Frezza abordam aspectos psicogenéticos implicados nos processos de construção das noções de tempo e de espaço das crianças, observando também a ação dos professores como mediadores no desenvolvimento de tais conceitos.
Sob o ângulo das identidades narrativas, Deniz Alcione Nicolay, em tom literário, nos traz “A máscara de Emílio”, analisando a identidade infantil presente na obra de Rousseau, através das narrativas reflexivas de Emílio. Como o próprio autor nomeia, “desenvolve-se no artigo a textura de uma máscara que encontra na linguagem a fórmula pulsante de sua expressão”.A relação entre educação e identidades étnico-raciais é analisada por Alan Augusto Moraes Ribeiro. Sob o título “No meio e misturado: o moreno como identificação de cor entre estudantes de uma escola pública”, o autor desenvolve argumentos em torno dos processos identitários segundo um sistema de classificação de cor, valendo-se dos instrumentos da antropologia para pensar o “moreno” como categoria social.As identidades juvenis são analisadas por William de Goes Ribeiro no artigo “Multiculturalismo, juventude e formação do professor: potenciais para uma discussão sobre a diferença”. Valendo-se do banco de teses disponíveis no Portal da Capes, o autor observa a articulação da dimensão multicultural envolvida nas perspectivas de professores e jovens, interrogando sobre a dualidade identidade/diferença na luta contra preconceitos e estereótipos. A relação entre juventude e escola é o alvo de Mariane Brito da Costa. Em seus argumentos, recupera reflexões sobre a função da escola como locus de socialização e problematiza o distanciamento existente entre as culturas juvenis e as culturas escolares, no texto: “As diferentes manifestações da juventude na escola: uma visão dos impasses e das perspectivas: “Dança, gênero e sexualidade: um olhar cultural” é o título do artigo de Giuliano Souza Andreoli, no qual são analisados o conceito de gênero, sua relação com a educação e as representações hegemônicas sobre os corpos femininos na dança.Em “Uma escola para todos e para cada um: escola inclusiva, uma comunidade de aprendizes”, Judithe Eva Dupont Ló traz um tema recorrente nas produções discursivas dos educadores que se veem diante de desafios da inclusão na escola regular e que ainda carece de reflexões e de mediações entre o real e o ideal.
As identidades de aprendizes permeiam o texto de Roque Moraes: “O significado do aprender: linguagem e pesquisa na reconstrução de conhecimentos”, defendendo a linguagem e a pesquisa como elementos centrais nos processos de ensinar e aprender e, portanto, considerados como princípios da aprendizagem. Finalizamos este volume com duas resenhas. Na primeira, Gabriele Vieira Neves traz uma importante discussão sobre a obra de Karin Strobel intitulada “As imagens do outro sobre a cultura surda”. Na segunda, Sueli Salva nos apresenta a obra do sociólogo italiano Alberto Melucci, abordando a questão das identidades nas sociedades complexas: “O jogo do eu: a mudança de si em uma sociedade global”.
Observando o espectro de temas apresentados nesta edição da Revista Conjectura, em torno da relação educação e processos identitários, podemos visualizar as urgências que penetram e/ou tangenciam a formação e a atuação docentes. Esperamos que os artigos aqui publicados suscitem diálogos e fertilizem práticas inovadoras, capazes de nos mobilizar em direção aos enfrentamentos necessários para a superação dos desafios da educação contemporânea.
Nilda Stecanela
Organizadora