Leitura e singularidade biográfica: o caso do editor português Vitor Silva Tavares
DOI:
https://doi.org/10.18226/21784612.v27.e022004Palavras-chave:
Singularidade, Biografia, Leitura, Livro, Vitor Silva Tavares, Portugal.Resumo
Partindo de uma relevante premissa de Paulo Freire, a de que “a compreensão crítica do ato de ler […] não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele” (Freire, 1981, p. 9), o vertente artigo procura analisar os primeiros anos (até à adolescência) do processo de construção social de um indivíduo-leitor, a saber, Vitor Silva Tavares (1937-2015), timoneiro, a partir de 1974, da histórica casa editora &etc. Com uma infância vivida num meio nada culto ou diletante (em sua casa o objeto livro não era algo que abundasse), e tendo abandonado precocemente os estudos liceais, Vitor Silva Tavares acabou por tornar-se, contra toda a probabilidade, numa figura marcante do campo da edição literária em Portugal na segunda metade do século XX. Ganhando ele espessura de caso, trata-se aqui de reflectir, a partir de elementos obtidos através do recurso à história de vida do referido editor, como sob a colagem de diversos efeitos, socializações e acasos se foi produzindo um perfil singular de indivíduo, perfil esse onde a atividade da leitura ocupou um papel determinante, gerando predisposições mentais, desafios, condicionando a própria vida que Vitor Silva Tavares quis levar, dedicada à prescrição editorial, à mediação da leitura, transferindo para outros impressões (sobre vários mundos) que foram primeiramente suas.Referências
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