Arquivos - Página 2

  • Intercom
    v. 9 n. 18 (2010)

    APRESENTAÇÃO

    A presente edição desta publicação não é apenas um balanço, ainda que parcial, do XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, promovido conjuntamente pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), mas do que vem se realizando em pesquisa no campo da Comunicação Social em nosso País.

    O conjunto de onze artigos reunidos neste dossiê parte de um depoimento emocionado e emocionante – o de José Marques de Melo, a respeito do surgimento da televisão, no País, e o modo pelo qual a nova mídia introduziu-se e misturou-se em meio às práticas cotidianas das famílias brasileiras, quanto à maneira pela qual ela foi percebida pelos pesquisadores da comunicação.

    Logo depois, temos um estudo a respeito de Luiz Beltrão, nosso primeiro Doutor em Comunicação Social. O artigo aborda o lançamento do pioneiro estudo Iniciação à filosofia do jornalismo, completando 60 anos neste momento, e que evidencia não a prevalência histórica, mas a percepção sensível de Luiz Beltrão, quanto aos fenômenos comunicacionais.

    Beltrão – o mestre – e José Marques de Melo, seu discípulo, mas que, na prática de sua longevidade, terminou por levar muito mais longe os pontos de vista de seu mentor e orientador, formando, por seu lado, pelo menos duas gerações que se seguiram, de professores e de pesquisadores, formam o dueto que, de certo modo, pauta este conjunto de estudos e marca sua qualidade.

    Na sequência, como que a dizer que olhar para o passado não significa voltar as costas para o futuro, seguem-se três artigos que discutem a inclusão digital e as novas tecnologias. O primeiro deles, de Carla Patrícia Pacheco Teixeira e Maria Salett Tauk Santos, faz importante cruzamento entre a tecnologia digital e a perspectiva do localismo, a partir de experiências concretas vividas desde o agreste pernambucano. Logo depois, Adriana Amaral e Sandra Portella Montardo propõem uma análise comparativa entre os estudos norte-americanos e brasileiros sobre o tema, a evidenciar a importância dos colóquios binacionais que a Intercom vem promovendo há anos, possibilitando maior aproximação e compreensão entre estudiosos de diferentes nações, em face dos pesquisadores brasileiros.

    Por fim, de certo modo volta-se à perspectiva localista (ou regionalista), quando Lawrenberg Advíncula da Silva e Yuji Gushiken avaliam o papel e a interferência de lan houses no ambiente da cidade de Cuiabá, no distante Mato Grosso.

    Um terceiro bloco de mais três artigos passa a discutir aquela que é a mídia mais popular entre nós, e cujo debate foi antecedido pelo artigo de José Marques de Melo, a televisão. Aqui, contudo, a abordagem é sobretudo a partir do presente, desde o artigo de Maria Luiza Cardinale Baptista, discutindo as narrativas televisivas contemporâneas, até uma revisão teórica dos estudos de Iuri Lottman, por Ronaldo Henn, aplicados aos processos de semiósis artísticas, chegando à nova experiência da televisão digital. Os estudiosos da antiga União Soviética, desde Mikhail Backhtin, passando por Jakobson e, mais recentemente, Lotman e Unspenski, têm nos propiciado uma compreensão mais ampla sobre os fenômenos de significação, especialmente quando se aplicam suas teorias às inovadoras experiências de suportes modernos, como a televisão e a internet.

    Quanto à televisão digital, tema do artigo de Valdecir Becker e de Marcelo Knörich Zuffo, sua inclusão na realidade brasileira levantou amplos e acirrados debates sobre a importância da existência e do debate público sobre políticas públicas para a comunicação social, desafio para todos os países que vêm experimentando o processo de adaptar-se a novas realidades tecnológicas, sob uma perspectiva de democratização para o acesso de tais mídias.

    O último bloco, com mais três artigos, com que se encerra o dossiê, é como que uma evidenciação de que a Intercom preocupa-se tanto com o passado quanto com o futuro e o presente. Aqui, estudam-se o jornalismo cultural do importante “Caderno de sábado”, do Correio do Povo, de Porto Alegre, nos anos 70 e 80, por meio do artigo de Everton Terres Cardoso; quanto se discute a importância do jornalismo de divulgação científica, graças ao estudo de Antonio Roberto Faustino da Costa, Cidoval Morais de Sousa e Fabrício José Mazzoco, na medida em que, se a comunicação é um ambiente em que todos nos encontramos mergulhados, obrigatoriamente, não menos é verdade que, cada vez mais, o desenvolvimento da ciência, em todas as suas manifestações, tem marcado a modernidade e a pós-modernidade. Suas consequências, mesmo que ignoradas, são sofridas por todos nós. É fundamental, assim, que a divulgação científica não apenas propicie melhor compreensão sobre a importância da ciência quanto sobre a necessidade de que se reconheça e se valorize a responsabilidade que os cientistas têm cada vez mais em nossa sociedade.

    O dossiê se encerra, não por um acaso, falando daquela mídia que é, ainda hoje, a mais abrangente, porque a mais móvel de tantas quantas podemos desfrutar no momento: o rádio. Essa é a responsabilidade de Nélia R. Del Bianco e Carlos Eduardo Esch, que discutem a adaptação do rádio brasileiro à nova tecnologia digital, ecoando o debate da televisão, e, ao mesmo tempo, evidenciando suas diferenças e suas especificidades.

    Em suma, quem tiver acesso à edição desta publicação certamente vai se surpreender com a dinâmica dos debates e com a profundidade das polêmicas aqui levantadas. E vai, sobretudo, dar-se conta de que, queiramos ou não, conscientes ou não, vivemos, sim, um mundo mergulhado em processos de comunicação, que se aguçam e democratizam, ou não, conforme melhor e maior compreensão tenhamos dos mesmos.

    À Profa. Dra. Branca Sólio, editora desta publicação, o agradecimento da Intercom pela maneira eficiente e seletiva com que soube formar este dossiê, deixando, assim, documentado, o XXXIII Congresso de nossa entidade, que se realizou na UCS, ao mesmo tempo que publiciza preocupações e análises dos estudiosos do fenômeno comunicacional em se vincularem tanto ao passado, que nos permite compreender o presente, quanto a anteciparem o futuro, a partir das experiências contemporâneas.

    Prof. Dr. Antonio Hohlfeldt
    Presidente da Intercom

  • Teorias da Comunicação; Identidade e Cultura; Cinema; Literatura; Comunicação Organizacional
    v. 9 n. 17 (2010)

    APRESENTAÇÃO

    Na edição que os leitores recebem, quebramos nossa regra ao acolher artigos diversos, sem coagular Conexão em torno de um tema único. nesta edição não nos concentramos em um dossiê temático, oferecendo um leque diversificado de opções de leitura/análise/estudo.

    Outra novidade é a inserção da revista no portal de revistas da Universidade de Caxias do Sul – UCS – que se pode acessar pelo endereço www.ucs.br/etc/revistas. A partir da publicação sistemática online, a revista recebeu, também, o ISSN 2178-2687. Com o novo passo, Conexão recebeu indexação nos portais Sumários.org e Portal do Conhecimento Nuclear. A partir da implementação de mais alguns critérios científicos, estamos pleiteando sua indexação em outros portais nacionais e internacionais.

    Teorias da Comunicação,  Identidade e Cultura, Cinema, Literatura e Comunicação Organizacional integram os grandes temas abordados na edição, a partir de dez artigos selecionados.

    Qualificar Conexão gráfica e editorialmente é nossa meta prioritária, elegendo para tanto critérios como cientificidade, originalidade e inovação, com rigor.

    Marlene Branca Sólio
    Editora

  • Jornalismo e Literatura
    v. 8 n. 16 (2009)

    APRESENTAÇÃO

    Um das características de nossos tempos, para o bem ou para o mal, é a abertura do leque de possibilidades de olhares sobre um mesmo objeto. O século XXI encerra uma tarefa iniciada na segunda metade do século XX: o sepultamento de verdades unívocas, absolutas. Esta edição de Conexão corrobora para afirmar nossa premissa. Ao olhar para Jornalismo e Literatura, como formas de discurso, obtivemos uma visão caleidoscópica, multifacetada da questão em pauta. Ao abrirmos possibilidades de perspectivas e análise, enterramos um modo hermético e estanque de “ver o mundo”, o que se, de um lado conforta, de outro, nos remete a uma tarefa muito mais complexa, e exige que desenvolvamos uma capacidade redobrada de articulação, reflexão, “costura”. Pensar jornalismo e literatura nessa perspectiva foi o objetivo dessa edição de Conexão, para o que pedimos ajuda a estudiosos e pesquisadores, que se debruçam sobre o tema. Agradecemos a todos, deixamos nossas páginas à disposição para mais reflexões e esperamos, de alguma forma, ter acrescentado senão esclarecimentos, pelo menos inquietações aos nossos leitores. Na edição que segue, encontramos:

    Jornalismo e literatura: modos de dizer, de Fabrício Marques, busca delinear, amparado em Jakobson, uma fundamentação das características próprias da Literatura e do Jornalismo; em Estado de Minas: do jornalismo à escrita técnica, Adriane Vidal Costa e Ewerton Martins Ribeiro, fundamentados na análise do discurso, mostram como o citado jornal afastou-se gradativamente do discurso literário entre as décadas de 20 e 60 do século passado; A representação do jornalista como personagem na literatura brasileira da década de 70, de Aline Strelow, traz o retrato do jornalista da década de 70 do século XX, a partir de estudo das obras Incidente em Antares (Erico Verissimo), A Festa (Ivan Ângelo) e Um copo de cólera (Radun Nassar). O estudo se dá à luz da teoria literária; em Do livro ao jornal: o texto fragmenta-se na notícia, Jeana Laura da Cunha Santos propõe-se trazer à tona um instante pioneiro no Brasil de experimentação do corpo móvel, democrático, veloz e público do jornal, por meio da perspectiva original de escritores, como Machado de Assis e Olavo Bilac. Nas passagens, Assis e Bilac elucidam percepções novas do imaginário da época; Carlos Magni nos traz A crônica de Luís Martins: dissolução das fronteiras entre jornalismo e literatura, trabalho que expõe a crônica como gênero híbrido, ligado tanto ao mundo objetivo das notícias quanto ao mundo subjetivo do cronista; Mauro de Souza Ventura oferece aos leitores Formação do campo da crítica no Brasil: a contribuição de Otto Maria Carpeaux, trabalho que estuda a obra do autor no contexto das transformações ocorridas no campo da crítica literária brasileira, nas décadas de 40 a 70 do século passado. Karla Renata Mendes e Nincia Teixeira, em Exercício cronístico de Cecília Meireles: entre o lirismo e a crítica, busca analisar o trabalho de Cecília Meireles na ceara da crônica, mas também demonstrar que a autora se dedicou a escrever e opinar de forma crítica sobre os aspectos negativos da realidade em que estava inserida; em Ifá, O Adivinho: literatura afro-brasileira no Canal Futura, Sátira P. Machado e Elizabeth R. Z. Brose tratam dos suportes para o referido texto literário: livro tradicional e livro animado. Em Educação estética e direito: interpretação de prosas e poesias de apenados, Graciela Ormezzano e Mauro Gaglietti mostram uma pesquisa interdisciplinar relacionada à justiça restaurativa, à psicologia analítica de Jung e ao processo de educação estética. O trabalho envolveu as regiões penitenciárias e as Casas Especiais de Charqueadas e Porto Alegre (RS). Em Patativa do Assaré: porta-voz do sertão, Antonio Iraildo Alves de Brito propõe um perfil do poeta, com o objetivo de apontar alguns fatos marcantes em sua trajetória e que parecem de relevância considerável na “construção” de sua obra poética.

    Na sessão artigos Conexão, Agrivalca R. Canelón S. fala sobre Comunicación integral de marca: apalancando el concepto de desarollo territorial a partir de las herramientas del branding, importante reflexão para os estudiosos da Comunicação Organizacional.

    Marlene Branca Sólio
    Editora

  • Cinema
    v. 8 n. 15 (2009)

    APRESENTAÇÃO

    Praticamente um século separa nossos dias daqueles que testemunharam o surgimento do cinema. Desde “O cantor de jazz”, exibido em 6 de outubro de 1927, oficialmente primeiro filme falado, uma larga e sinuosa trajetória marca a relação da cultura com a imagem.

    De tradutora oficial da verdade, documental, ela migra, com a evolução tecnológica, na direção de locutora do imaginário. (Re)cria “formas visuais de percepção e expressão da realidade”, como diz Alice D. Trusz, no artigo que abre esta edição de Conexão.

    A fotografia nasce liberando a imagem de seu compromisso com o retrato clássico, trabalho de pintores pacientemente debruçados sobre tintas e pincéis. Ela cava
    seu nicho, mas não sem desalojar modos de ver, de fazer e de sentir. Ela muda o status da imagem alterando não somente o modo como o homem vê, mas o modo como ele olha para as coisas. A reprodutibilidade, a mimese, play back, o clone, os múltiplos outros que o uno escondia se escancaram a partir dela.

    No momento em que a imagem adquire vida, movimenta-se, dá ao homem uma nova perspectiva. Altera, mais uma vez, sua relação com a cultura. Ao movimentarse, ao abandonar a passividade, ela faz inverter o jogo. Agora é ele quem senta, passivo, em uma sala escura, aguardando o inusitado, algo que o surpreenda, mas que também o arranca da zona de conforto em que se encontrava ao manusear seus álbuns de fotografias.

    E a nova descoberta, o despertar, a nova arte, seja lá como chamemos, ganha voz e ganha cores; em um jogo de ambivalência, se aproxima, cada vez mais, da realidade, aguçando mais e mais o imaginário. Novos suportes, como a televisão, implicam novos movimentos, assim como novos processos, como a digitalização da imagem, a evolução tecnológica, marcam “soluços” que acabam por redirecionar o olhar mais uma vez.

    A partir do cinema, a relação do homem consigo não será a mesma. Em um jogo de sedução, ele (o cinema) revela, como bem mostra Nestor Garcia Canclini em Consumidores e cidadãos, a sua (do homem) cara, ajuda-o a construir uma identidade.

    Ao mesmo tempo, é estandarte da dominação, da imposição de valores, da exploração, como bem demonstraram o cinema representativo do new deal e a estética do cinema alemão de Hitler.

    E, como a arte imita a vida, o cinema ganha fôlego ainda maior a partir da informatização da sociedade, que vai, rápida, informatizando a cultura. Efeitos especiais arrancam do espectador a ilusão de que pode alcançar a verdade do fato documentado em película. Lança-o de volta ao lugar da incerteza.

    Ele é arrancado da poltrona e convidado a voltar ao seu tempo eterno, ao seu inconsciente, em que a borda entre o real e o imaginário é tênue, movediça. O real, o imaginário, a fantasia, o delírio, a alucinação – inquilinos do inconsciente – passam a habitar a “sala escura”.

    Realista, ou cruel? O cinema do século XXI, fruto da arte digital, mostra ao homem que ele está, desde os primórdios, andando em círculo, atado ao inconsciente que, Freud mostra bem, é eterno e que nós traduzimos como sempre já presente.

    O cinema do século retrasado abriu uma janela para o mundo interior, iniciou uma longa viagem. Assustada com o trem que avançava sobre ela, a plateia trataria logo de embarcar naquela viagem que mudaria a “cara” do mundo; que teria o poder de criar um universo paralelo; que seria capaz de transformar o olhar do homem sobre si e sobre o outro.

    É desse tema tão interessante quanto importante que a Conexão se ocupa nesta edição, reunindo um leque de reflexões sobre o que chamamos de 7ª arte, amarradas, no entanto, à Sociologia, à História, à Psicanálise, à Antropologia, à Semiótica, enfim, dando conta de trazer ao leitor uma manifestação cultural tecida e retecida com os fios do olhar, do ouvir, do sentir do homem nas três dimensões nas quais, graças a ela, ele pode habitar simultaneamente.

    Marlene Branca Sólio
    Editora

  • Crítica da Mídia
    v. 7 n. 14 (2008)

    APRESENTAÇÃO

    Em Curso geral de midiologia, Debray (1993, p. 349) nos lembra que Napoleão fechou 97 de 157 impressoras francesas e que as gazetas parisienses foram reduzidas a quatro: cada departamento ficou apenas com um jornal.

    Assim “estaremos em paz”, conta o autor, lembrando ainda que, segundo Napoleão, deve-se imprimir pouco e quanto menos melhor. É Debray ainda quem frisa, em Manifesto midiológico (1994, p. 64), categoricamente, que “não há médium inocente, também não há transmissão indolor”. Assim, a mídia figura não apenas como registro, mas também como script da história, o que não pode passar despercebido, sob pena de perdermos nosso lugar na construção dessa história.

    E Foucault, em Arqueologia do saber (1986, p. 114), já afirmara que não há enunciado, em geral, livre, neutro e independente, mas sempre um enunciado fazendo parte de uma série ou de um conjunto, desempenhando um papel no meio dos outros, neles se apoiando e deles se distinguindo; ele se integra sempre em um jogo enunciativo.

    A partir daí, podemos perceber um vínculo estreito entre cultura e ideologia. E, ao falarmos em ideologia, é impossível não tocar na questão da disputa de poder, o que exige um olhar também na direção de algumas outras noções fundantes, como controle, dominação e disciplina. Morin, em O método 1, fala de um caráter multidimensional e complexo nos componentes do conhecimento e de problemas, o que demanda diálogo entre reflexão subjetiva e conhecimento objetivo.

    Se pensarmos em Brasil especificamente, teremos, segundo Barbosa Filho e Castro, em Comunicação digital: educação, tecnologia e novos comportamentos (2008, p. 118), que, na Região Nordeste, “há 68 políticos locais que sãoproprietários de veículos de rádio e TV e que os casos mais gritantes são do senador Garibaldi Alves Filho (DEM /RN ), com dez concessões distribuídas entre rádios AM, FM e TV, seguido do senador José Sarney (PMDB/MA), com nove concessões de rádio AM, FM e TV. E Nelso Traquina, em O estudo do jornalismo no século XXI (2001), acentua, pautado em Herman e Chomsky, que os mídia norte-americanos estão altamente concentrados, com cerca de uma dúzia de entidades dominando o fluxo das notícias para o público e capazes de estabelecer o valor dessas por decisão própria. No Brasil, talvez seja importante lembrar que um pequeno grupo de famílias domina amplamente o setor da comunicação.

    Paradoxalmente, fala-se, cada vez mais, em administração participativa e divisão de poder. Naturalmente, significativo número de organizações depara-se com a resistência a essa distribuição do poder e mesmo com o boicote às ações de desmanche do antigo cenário interno. Pode-se pensar, portanto, que ao aumento da autonomia dos sujeitos/equipes, corresponde o aumento do controle sobre informações/dados/conhecimento/sujeitos. Nesse sentido, na imprensa, vale lembrar o papel dos gate keepers. Parece interessante, também, trazer a teoria organizacional de que fala Traquina (2001, p. 71-72), que dá ênfase ao “processo de socialização organizacional em que é sublinhada a importância duma cultura organizacional, e não uma cultura profissional”. O jornalista acaba absorvendo a política editorial por osmose: ela não lhe é passada explicitamente, enfatiza Traquina (2001), com apoio em Breed.

    Organizações são, não apenas, mas também, um meio de manter fluxos de ordem e estrutura social. O crescimento exponencial das populações, a sofisticação das “relações de negócios”, o aumento do volume de dados/informações alteram e complexificam seu papel nas sociedades. Cremos importante evidenciar que esse cenário oportuniza, mesmo, uma “brecha” para a transformação desse papel. De coadjuvante, a organização passa a atriz principal, com competência, inclusive, para modificar o cenário, contando, nesse sentido, com seus pares da imprensa.

    Talvez seja interessante sublinhar a teoria de ação política do jornalismo, de que fala Traquina (2001), destacando sua versão de esquerda, segundo a qual “existe um diretório dirigente da classe capitalista que dita aos diretores e jornalistas o que sai nos jornais.” (p. 82). Ainda em Traquina (2001, p. 82), Herman e Chomsky frisam: “1. O papel determinante dos proprietários dos mídia e a ligação estreita entre a classe capitalista, as elites dirigentes e os produtores midiáticos; 2. A existência de um acordo entre personalidades da classe dominante e produtores midiáticos; 3. A total concordância entre o produto jornalístico e os interesses dos proprietários e dos élites [sic]”.

    Barbosa e Castro (2008, p. 96) lembram que é importante conhecer a quem pertence cada veículo de comunicação e quais as relações entre uma empresa de TV aberta analógica ou digital, rádio AM ou FM, provedor de internet, agência de notícias e as informações que disponibilizam. Esses dados ajudam a compreender por que determinado veículo escolheu uma ou outra fonte para entrevistar, ou por que adota determinada arquitetura no desenho de um fato ou de uma notícia.

    Como separar linguagem e comunicação? E como desarticular discurso e prática de poder? A articulação da linguagem leva à criação de sentido e, nas cadeias significantes, estará a possibilidade de geração de múltiplos desses sentidos.

    Em A verdade e as formas (1974, p. 6), Foucault mostra o discurso como “um jogo estratégico e polêmico, de ação e reação, pergunta e resposta, dominação e esquiva, luta [...]. Espaço em que saber e poder se articulam”. Diz ainda que quem fala o faz de um lugar reconhecido institucionalmente (autoridade do discurso); portanto, faz circular o saber (institucional) e, com isso, gera poder (da Igreja, por exemplo, ou da ciência). A produção desse discurso gerador de poder é organizada e distribuída por procedimentos cuja função é eliminar todo tipo de ameaça a sua permanência. No caso da imprensa, Traquina (2001, p. 77) lembra que “o jornalista sabe que o seu trabalho vai passar por uma cadeia organizacional em que os seus superiores hierárquicos e os seus assistentes têm certos poderes e meios de controle”.

    Quanto ao público leitor, não podemos negar: existe uma tendência à idealização.

    À massa de leitores repassa-se a ideia de neutralidade/objetividade, como se organizações jornalísticas estivessem “acima do bem e do mal”, livres de qualquer tipo de influência/interesse/julgamento.

    A “ordem discursiva” própria a um período particular possui uma função normativa e reguladora e coloca em funcionamento mecanismos de organização do real por meio da produção de saberes, de estratégias e de práticas. (REVEL, Foucault, conceitos essenciais. 2002, p. 37). Uma mesma palavra assume sentidos opostos, dependendo do discurso onde esteja inserida. Podemos dizer que os diversos discursos materializam-se em formas de ver o mundo das diversas classes sociais com seus interesses, muitas vezes antagônicos: as formações ideológicas encontram as discursivas. Sabemos que palavras e expressões assumem sentido em sintonia com a posição de quem as emprega, ou seja, adquirem sentido em referência a essas posições, ou formações ideológicas, nas quais essas posições estejam inscritas. Parece-nos importante destacar que a linguagem pode funcionar como centro de poder.

    Nesta edição da revista Conexão reunimos artigos que, sob vieses diversos, buscam refletir criticamente sobre a mídia e o papel que ela exerce na cristalização de relações de poder, por meio de subterfúgios diversos como, por exemplo, a calcificação de estereótipos. Precisamos destacar o duplo papel da mídia: como observadora e também como protagonista da história.

    Marlene Branca Sólio

    Editora

  • Comunicação e Desenvolvimento Sustentável
    v. 7 n. 13 (2008)

    APRESENTAÇÃO

    Desenvolvimento sustentável se apresenta, nas últimas décadas, como tema recorrente em todas as áreas do conhecimento. Assim, não poderia estar ausente da pauta de estudiosos da Comunicação. Antes, porém, é preciso buscar (em nosso caso pelo viés da Complexidade, de Morin) o enlace não somente entre desenvolvimento e sustentabilidade, mas entre Comunicação e demais áreas de estudo, numa perspectiva transdisciplinar.

    Parece-nos importante refletir, antes, sobre o que entendemos por interdisciplinaridade: Síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível do discurso (metanível), caracterizado por uma nova linguagem descritiva e novas relações estruturais. (WEIL; DAMBROSIO; CREMA, 1998, p. 31). Os autores citam Basarab (1992), ao lembrar que a transdisciplinaridade pode ser definida como um estágio superior da interdisciplinaridade, que não se contentaria em atingir as interações ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas situaria essas ligações no interior de um sistema total sem fronteiras estáveis entre as disciplinas; e recorrendo a Jantsch, lembram que a transdisciplinaridade é o reconhecimento da interdependência de todos os aspectos da realidade. Para eles, a transdisciplinaridade é conseqüente da síntese dialética provocada pela interdisciplinaridade bem-sucedida e nunca estará completamente ao alcance da ciência, mas poderá orientar de modo decisivo a sua evolução. (1998, p. 31).

    Em Cabeça bem-feita, Morin discorre sobre a interpolitransdisciplinaridade. Ele esclarece que certos conceitos científicos mantêm a vitalidade porque se recusam ao fechamento disciplinar. (2000, p. 105-114). E isso nos faz lembrar de Lacan, quando, dirigindo-se a seus alunos, evidenciou a mania que eles têm de querer compreender tudo. O racionalismo exacerbado, a sede de poder sobre todos os fenômenos nos leva a isolar, compartimentar, dividir, perdendo a noção do conjunto, da complexidade do todo e da inteiridade da parte.

    Assim, buscando a Comunicação como espaço de transformação, de análise, de tradução, como suporte e como elo, mas também como mola propulsora, reunimos alguns trabalhos que buscam refletir sobre o papel dessa área do conhecimento, não apenas como técnica ou estratégia de divulgação a serviço de uma ideologia, mas como meio para a transformação social, como caminho para um desenvolvimento sustentável.

    Se quisermos que nosso planeta sobreviva, precisamos, de modo urgente, pensar a Comunicação e as demais áreas do conhecimento como processo, portanto, contínuo, integrado, complexo. É nessa perspectiva que os textos selecionados para esta edição falam em violência social, tecnologias, ecologia, responsabilidade social e inclusão, entre outros temas que precisamos discutir com a máxima urgência.

    E aproveitamos este espaço, também, para convidar nossos leitores a lerem o encarte, no final da revista, que destaca Gêneros textuais, esferas profissionais e educação, lembrando que a Universidade de Caxias do Sul sediará o V Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais, de 11 a 14 de agosto de 2009, evento para o qual sintam-se todos convidados.

    Marlene Branca Sólio

    Editora

  • Fotografia
    v. 6 n. 12 (2007)

    APRESENTAÇÃO

    Parece-nos não haver momento mais adequado para uma reflexão sobre a fotografia do que o que vivemos: uma sociedade regida pela transformação permanente, pelo avanço sistemático dos processos tecnológicos; uma sociedade regida pela “batuta” da imagem. Esse foi o motivo do convite de Conexão aos estudiosos da área, que responderam prontamente com uma produção que certamente somará muito para uma boa análise.

    Em Fotografia, memória e tecnologia, Silvana Boone registra: “Desde sua invenção, a fotografia sempre esteve associada à idéia de registro e de memória do presente. No contexto da arte, além dessas idéias originais, a fotografia também passa a ser objeto. No âmbito das tecnologias digitais e inovações constantes do século XXI, a fotografia torna-se material e ganha novas dimensões no que diz respeito a criações do passado.”

    Se num passado não muito distante a fotografia cumpriu o papel de documento, liberando artistas do compromisso de registro da realidade em seus trabalhos, hoje a vemos como meio, não mais como fim exclusivamente.

    Cooptada pela informatização, ela descobre a possibilidade de alçar vôo nos registros do simbólico e do imaginário, não sem provocar discussão, tampouco deixar uma lacuna importante. Qual, a partir daqui, o lugar do registro? O que significa registrar um fato e como vamos fazê-lo?

    No caminho que delineamos, é enriquecedor passar pelo texto de Cezar Bartholomeu, Mário Cravo Neto: a máscara é um olho, que ressalta: “Me parece mais adequado investigar e situar a estratégia que constrói sua obra, de modo a não dissecar suas imagens sob a esfera da cultura, ainda que essa seja de enorme importância para o artista. Proporia, então, de início, que a obra de Mário Cravo traz duas questões importantes ao espectador: a primeira se refere à fotografia documental, em sua potencialidade antropológica/etnográfica. A outra questão se refere ao endereçamento da obra de arte, ou, mais especificamente, ao espectador de arte contemporânea como o outro do objeto de arte (nesse caso, da representação fotográfica).”

    No artigo Geraldo de Barros e a fotografia como conceito, Paulo Henrique Camargo Batista e Luciana Martha Silveira partem das concepções de Arlindo Machado e Vilém Flusser, para discutir as possibilidades conceituais de a fotografia ser analisada como símbolo ou transformação do real, reconsiderando suas alternativas de classificação nesse campo teórico, ao pensar a possibilidade de intervenção na práxis comum e possibilitando uma estratégia de rompimento com o processo de dependência da programação do aparelho.

    Em A mudança da imagem do presidente Lula nas campanhas eleitorais à Presidência da República, Célia de Castro Rodrigues e Amália Raquel Pérez-Nebra recorrem à análise de 36 fotografias, buscando evidenciar o poder de persuasão da fotografia e seu alcance, preocupação que nos parece fundamental ao pensarmos o fotojornalismo, por exemplo. A discussão se aprofunda no texto de Renato Forin Júnior e Paulo César Boni, que analisam, de forma contundente Aspectos valorativos no fotodocumentarismo social de Sebastião Salgado.

    Talvez seja importante pensar pela Complexidade (Morin) ao levantar essa questão. Se, de um lado, o uso exacerbado da “imagem” pode levar ao caricaturismo, a uma falsa identidade, de outro poderá, justamente, somar para a formação dessa mesma identidade. Daí pensarmos com Morin, que fala em três circuitos pertinentes a essa discussão: o circuito risco/precaução, o circuito fins/meios e o circuito ação/contexto. No primeiro, o autor destaca que, “para toda ação empreendida em meio incerto, existe contradição entre o princípio do risco e o princípio da precaução, sendo um e outro necessários”.

    Ele destaca, ainda, que meios e fins inter-retroagem uns sobre os outros; é quase inevitável que meios sórdidos a serviço de fins nobres pervertam estes e terminem por substituí-los. Meios de dominação utilizados para fim libertador podem não apenas contaminar esse fim, mas também se auto-extinguir. “[...]

    Entretanto, a astúcia, a mentira, a força a serviço de uma justa causa podem salvá-la sem contaminá-la, com a condição de ter utilizado meios excepcionais e provisórios. Ao contrário, é possível que ações perversas conduzam a resultados felizes, justamente pelas reações que provocam. Então, não é absolutamente certo que a pureza dos meios conduza aos fins desejados, nem que sua impureza seja necessariamente nefasta.”*

    Na seqüência, Conexão apresenta os textos de Antônio R. de Oliveira Júnior, Paisagem na fotografia: sentidos e plasticidades e de Denise Camargo, Da contribuição de Antônio Paraggi a Sherrie Levine: uma inserção da fotografia no campo das artes, que reforçam a discussão do duplo papel da fotografia na contemporaneidade: o da mimese e da criação estética.

    Encerrando as discussões sobre o tema, Eduardo Masami Kitahara, com seu texto O uso da fotografia e da imagem digital nas pesquisas oceanográficas: novos rumos proporcionados pela evolução do processo digital, nos chama de volta à questão da complexidade da sociedade contemporânea (pósmoderna?), em que contrários convivem (e agora sabemos, não necessariamente em harmonia). Fica a provocação, na esperança de contribuir para algo de que nosso momento precisa muito: reflexão.

    * MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2001. p. 88.

    Marlene Branca Sólio

    Editora

  • Mídia, Cultura e Imaginário
    v. 6 n. 11 (2007)

    APRESENTAÇÃO

    Falar em cultura e imaginário, hoje, é “dar a cara pra bater”. Em meio a um caleidoscópio de teorias, visões, mundos, o que deve prevalecer? Qual é ou onde está a verdade? Ela existe?

    Ao convidar a comunidade acadêmica a discutir o tema, pelo viés da comunicação, a idéia era justamente esta: provocar autores a nos mostrarem algumas das “imagens de seus caleidoscópios”. Dar espaço a pesquisadores, para que, mesmo arriscando-se, nos mostrassem algumas das opções, no leque de possibilidades com que nos confrontamos, para “olhar este nosso mundo”.

    Para conversar um pouco com nossos leitores, retardando seu encontro com os articulistas aos quais somos imensamente gratos por terem atendido a nossa convocação, vamos a três ponderações: a primeira delas é trazer, para a noção de imaginário, as lentes de Lacan. A segunda é pedir a Morin seus óculos, e então poder olhar para a noção de cultura, e a terceira, com a qual os leitores já tiveram um encontro, é apelar para o bom humor de Dali, que, com o desdobramento de um mesmo quadro (“Rapariga à janela”, de 1925, e “Jovem virgem auto-sodomizada”, de 1954), nos mostra que a verdade está onde e como a colocamos.

    Como o tempo contemporâneo (para não cair na armadilha dos muitos conceitos que se encarniçam na disputa de levá-lo à pia batismal) se caracteriza pela multiplicidade de facetas, pela complexidade (Morin) e por apontar sempre novas e inúmeras possibilidades, parece coerente que a um movimento de imersão no tecnológico se contraponha, entre outros, um olhar na direção da subjetividade, do inconsciente. Eles aparecem como pratos de uma mesma balança, a provocar o equilíbrio pela disputa/tensão. Das três categorias lacanianas, o imaginário é aquele que nasce da constituição da imagem do corpo. Como o real é sempre da ordem do impossível, o imaginário se constituirá a partir do engodo, da identificação, da imagem. Nada mais coerente, portanto, do que admitir o quanto a sociedade contemporânea se fundamenta nesse registro, valora-o e olha/desenha o mundo de mãos dadas com ele. Morin alerta: “Toda sociedade comporta indivíduos genética, intelectual, psicológica e afetivamente muito diversos, aptos, portanto, a pontos de vista cognitivamente muito variados.”1 E está justamente nesse confronto a possibilidade de trincar o determinismo cultural e estimular dúvidas, incertezas, novas buscas/descobertas.

    Assim, encerrar-se numa visão míope de determinismo tecnológico ou, pelo contrário, lançar maldição eterna à tecnologia são posturas que, com certeza, nos impedem de olhar na direção do horizonte, dando-nos conta de que somos produtos e produtores de novas socialidades, de novas formas de relação, de novos usos para “velhos objetos”, mas também de velhos usos para “novos objetos”. É importante aceitarmos a premissa de que o imaginário é o oxigênio de todas as culturas.

    Marlene Branca Sólio

    Editora

  • Design
    v. 5 n. 10 (2006)

    APRESENTAÇÃO

    A sociedade contemporânea elegeu, como norteadores de seu desenvolvimento, de sua própria evolução, sistemas de informação prioritariamente centrados na imagem. Tudo o que se pode captar por meio do olhar acaba constituindo uma comunicação visual, intencional ou não. Assim, o apelo visual, de design, numa peça gráfica/produto é fundamental.

    Paralelamente, o estudo dos processos de comunicação tem contemplado, cada vez mais, vieses polissêmicos e inter/transdisciplinares* de análise. Falar em comunicação e design é falar em expressão gráfica, mas também em marketing e design de produto, em engenharia. Daí, a “mistura de autores e áreas” que buscamos nesta edição da Revista Conexão. Olhares vindos de diferentes perspectivas são enriquecedores, sempre. Parece-nos impossível pensar o mundo “em compartimentos” estanques.

    Globalização, chip, saturação, niilismo, simulacro, hiper-real, digital, desconstrução, são palavras-chave deste momento. O movimento chamado pós-moderno por alguns autores desfaz princípios, regras, valores, práticas e realidades. Ele revisita todos os conceitos, agrega, transforma, como uma usina recicladora. O resultado é o ecletismo de tendências. Nesse contexto, o design estetiza o cotidiano. A moda e a publicidade erotizam o dia-a-dia, estimulam o consumo e a posse. Assim, o pósmodernismo é a moeda corrente do capitalismo.

    A sociedade contemporânea caminha na direção da ênfase ao conhecimento local, à fragmentação, ao sincretismo, à alteridade e à diferença. Põe em colapso ashierarquias simbólicas rígidas, rompendo a barreira entre a alta-cultura e a cultura popular. Atenua os limites entre aparência e realidade. Vale lembrar Baudrillard e seu simulacro. Para o pensador, a vida contemporânea foi desmontada e reproduzida num escrupuloso fac-símile. A simulação toma a forma de objetos e experiências manufaturados, que tentam ser mais reais do que a própria realidade: segundo Baudrillard, hiper-reais.

    O sentido muda permanentemente. É impossível, mesmo para o autor, traduzir o verdadeiro significado de qualquer texto ou obra. Nenhuma comunicação é eficiente. Derrida sugere que tudo o que se pode ter são jogos com possibilidades e hipóteses, com suposições fundamentadas e riscos, às vezes calculados, às vezes não.

    Se, de um lado, o “estado” de pós-modernidade acena com a liberdade e com o “tudo se pode”, de outro, traz angústia e incerteza, que abalam profundamente os indivíduos. O modernismo, por sua vez, pensou ter encontrado as respostas para os grandes questionamentos do homem. Levou ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, à supervalorização da informação; dilatou fronteiras; rompeu as barreiras do tempo e do espaço, legando dúvidas multiplicadas, mais questionamentos.

    Ao contrário da modernidade, a pós-modernidade promove, na comunicação visual, o jogo, o acaso, a desconstrução, a acumulação, a diversificação e, principalmente, reintroduz o sujeito na atribuição de significação às mensagens visuais, até então “engessadas” por fórmulas preestabelecidas. O século XX vai marcar dois momentos importantes. Seu início aponta a ruptura com a tradição das belas-artes e, o final, a ruptura com a tradição racionalista que ele havia cultivado.

    Na mesma medida que traz o novo, o inaugural, o verdadeiramente inusitado, o design contemporâneo parece conter em sua gênese uma dualidade paradoxal: transcende, ao mesmo tempo que continua, o modernismo, pois nada recusa, agregando tudo. Harvey nos mostra que a sociedade da modernidade quer romper com o velho, enquanto se apóia na crença do ordenamento universal, na visão do projeto acabado, na lógica do início, meio e fim, atualizando a vigência do econômico, do despojado, do funcional (Bauhaus). O pós-moderno vai caracterizarse pelo “empilhamento”, pelo ecletismo, pela diversidade. O modernismo buscava distanciamento do passado, enquanto o pós-modernismo o revisita, aceita a tradição, potencializa-a e faz combinações entre seus aspectos. Não há projeto acabado. Há, sim, o inacabado, o contínuo, o instável, o imprevisível, a rede.

    Na sociedade contemporânea, assumem valor significativo os aspectos de design, quer falemos em produto, quer nos refiramos a mensagens. O design do produto está intimamente ligado ao marketing, ao valor de venda/consumo. O design gráfico, além de sustentar essa intenção com campanhas publicitárias, passa pela produção simbólica, pela construção do sentido. Ele vai, mais do que vender aquele determinado produto, “criar”, a partir dele, uma imagem/verdade, e será do designer gráfico o papel de construir um discurso que “mostre” um produto harmonioso.

    Ao discurso editorial de qualquer peça associa-se o discurso gráfico, inteligentemente utilizado, no sentido de reforçar determinada mensagem ou, no sentido de oferecer ao “leitor” recado complementar/subliminar, muitas vezes não percebido conscientemente.

    Traçado esse breve mapa, convidamos nossos leitores a percorrer os caminhos aqui apontados, na perspectiva de diversos autores, levando todos a um mesmo lugar: o design.

    * Por interdisciplinaridade: “Síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível do discurso (metanível), caracterizado por uma nova linguagem descritiva e novas relações estruturais” (WEIL et al., 1993, p. 31). Ainda segundo os autores, “a transdisciplinaridade pode ser definida como um estágio superior da interdisciplinaridade, que não se contentaria em atingir as interações ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas situaria essas ligações no interior de um sistema total sem fronteiras estáveis entre as disciplinas.” (Apud Basarab Nicolescu. Science et tradition. Trosisème Millènaire, Paris, n. 23, 1992).

    Marlene Branca Sólio

    Editora

  • Filosofia e Ética da Comunicação
    v. 5 n. 09 (2006)

    APRESENTAÇÃO

    Após um trabalho duro, colhemos os frutos, gratificantes, de mais uma edição de nossa revista Conexão. Divulgá-la na comunidade acadêmica, tanto quanto emprenhar qualidade na sua produção têm sido nossa meta prioritária. Para isso, usamos nosso endereço eletrônico www.ucs.br/cchc/deco/conexao, e recorremos à plataforma lattes, buscando estreitar contato com pesquisadores, entidades e associações.

    A primeira medida no sentido de divulgar a revista foi distribuí-la ampla e irrestritamente a um extenso mailing. A seguinte, foi ampliar o próprio mailing. A que segue, alegra-nos informar, será ampliar nossa tiragem.

    Queremos agradecer com ênfase aos articulistas que nos submeteram seus trabalhos e frisamos que o espaço está aberto, independentemente do dossiê temático de cada edição.

    Aproveitamos para informar que o próximo número, já em processo gráfico, aborda a temática do design, sob diversos prismas, e que a edição subseqüente, para a qual está aberta a inscrição de trabalhos, aborda a temática mídia, cultura e imaginário, seguindose, então, uma edição que deverá contemplar o fascinante tema da fotografia.

    Nesta edição, contamos com o trabalho de pesquisadores de Universidades de vários pontos do País que, por sua vez, focaram aspectos diversos do tema central: Ética e Filosofia da Comunicação, um assunto certamente importante nestes tempos em que a conduta de homens públicos vem causando tanta polêmica.

    A professora Mayra Rodrigues Gomes, da USP, escreve um artigo que aborda algumas Identificações entre o ethos do trabalho e o do bem-estar, embasado em três anos de pesquisa, coleta e observação de emissões televisivas.

    O professor Pedrinho A. Guareschi, da PUCRS, fala sobre Mídia e cidadania, analisando a presença, o papel e a relevância da mídia nas sociedades contemporâneas. O autor procura mostrar a mídia como construtora de uma realidade social e agente poderoso na construção da subjetividade das pessoas, discutindo as implicações trazidas por essa situação comunicacional para questões como democracia, cidadania e ética.

    João Elias Nery e Maria José Guerra, da PUCSP, oferecem aos leitores Imagens de guerra, guerra de imagens: a cobertura jornalística em dois momentos da guerra EUA/Iraque, um trabalho denso, meticuloso e rico, cujo objetivo maior é investigar elementos éticos presentes na cobertura, bem como analisar a produção de sentidos propiciada pelas imagens e por textos das manchetes veiculadas em sete países no período de 20 de março de 2003 a 10 de abril de 2003.

    Neusa Demartini Gomes e Geder Parzianello, da PUCRS, escrevem sobre O apagamento das forças do discurso persuasivo ante a racionalização das condutas: uma reflexão sobre o poder da fala política na sociedade contemporânea em tempos de CPIs. O artigo propõe discutir a eficácia persuasiva dos discursos políticos contemporâneos, diante de episódios recentes da vida pública nacional.

    José Luís de Carvalho Reckziegel, da Unisinos, em A fleuma inglesa versus o homoerotismo quase explícito, estabelece uma discussão sobre a função da publicidade como manifestação cultural, sobre as masculinidades praticadas na contemporaneidade e sobre as diversas formas de identidade que se conformam e/ou extrapolam os gêneros ainda socialmente instituídos.

    Luiz Carlos Bombassaro, da UFRGS, escreve Imagem e conceito: a experiência do pensar nos emblemas da Renascença. O autor parte do princípio de que, baseada na conjunção de novas formas pictóricas e reflexões filosóficas, a emblemática operou profunda mudança cultural na Renascença.

    Cláudio Almir Dalbosco, da Universidade de Passo Fundo - RS, escreve Diálogo consigo mesmo, voz interna da consciência e ação simbólica no contexto pedagógico, discutindo o significado que o problema do “ocupar-se consigo” pode desempenhar em contextos pedagógicos, de modo especial em relação ao tema da função social do professor.

    Gabriele Greggersen, da Faculdade Teológica Sulamericana, produziu Cinco ferramentas para o ensino-aprendizagem da filosofia, trabalho que aponta alternativas didáticas para tratar de temas filosóficos como preconceito, igualdade, justiça e ética, adaptadas à atualidade.

    Marialva Barbosa, da Universidade Federal Fluminense (UFF), produziu O filósofo do sentido e a comunicação, explorando a teoria da narrativa, de Paul Ricoeur, nos aspectos em que pode ser mais rica para pensar aportes comunicacionais.

    Clóvis de Barros Filho e Arthur Meucci, da USP, fecham nosso dossiê temático com o artigo O valor no comunicador organizacional: tangências éticas e epistemológicas, embasado em pesquisa desenvolvida com 133 comunicadores organizacionais, de 2003 a 2005 e que teve como pauta verificar a possibilidade da transparência e da neutralidade nas comunicações dentro das organizações, e suas questões éticas.

    Na seção Conexões, há três artigos voltados ao tema da literatura. Temos o trabalho de Dhynarte Albuquerque Filho, da UCS, com Haroldo e as galáxias: um caso concreto de barroco, onde investiga a relação entre a obra Galáxias, originalmente publicada em 1984, e as manifestações barrocas do século XIX, destacando Gregório de Matos e o padre jesuíta Antônio Vieira. Eulália Isabel Coelho produziu Domínio do irremediável em Caio: palavra/imagem, fruto de extensa pesquisa desenvolvida ao longo de dois anos. O trabalho é uma análise semiótica do escritor gaúcho e pretende elucidar alguns aspectos fundamentais de seus registros textuais, contos e crônicas. João Cláudio Arendt e Cinara Ferreira Pavani encerram a edição com América: a anti-utopia da imigração italiana, que discute aspectos da identidade cultural do imigrante italiano e do imaginário social nos romances A Cocanha e O Quatrilho, de José Clemente Pozenato.

    Cumprimentamos os autores que somaram-se a nós no esforço de oferecer aos leitores um trabalho consistente e estendemos o convite de participação aos demais integrantes da comunidade acadêmica da comunicação e de áreas correlatas. Esperamos que os textos possam auxiliar leitores, professores, alunos e pesquisadores, fornecendo informações e suscitando questões que os instiguem a desenvolver estudos e pesquisas cada vez mais valiosos, aprofundando o debate e o diálogo, aspectos essenciais a um conhecimento interdisciplinar.

    Marlene Branca Sólio

    Organizadora

  • Teoria da Comunicação
    v. 4 n. 08 (2005)

    APRESENTAÇÃO

    Coube-me a honra de ser convidado para editar este número da revista Conexão/Comunicação e Cultura da Universidade de Caxias do Sul. A proposta inicial definia já naquele momento, outubro de 2005, uma ênfase na teoria. As reflexões, os diálogos e as perspectivas levaram-nos para a configuração que a revista apresenta neste número jan./jun. 2006, o qual gratamente coincide com a realização do Congresso da Associação Latino-Americana de Pesquisadores da Comunicação (Alaic), entre 19 e 21 de julho, no Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul.

    Adotamos como critérios de confluência dos autores sua experiência em pesquisa teórica e empírica no campo da comunicação; sua representatividade qualitativa nos campos científicos nacionais aos quais pertencem e ao campo comum ibero-americano, como também sua postura crítica transformadora e construtiva em relação às problemáticas da área de ciências da comunicação.

    Apresentamos, seguindo essa lógica, o texto “Os meios massivos no estudo da comunicação/cultura” da professora-pesquisadora María Cristina Mata, da Universidade Nacional de Córdoba, Argentina, que problematiza o lugar epistemológico das pesquisas em comunicação, questionando o ressurgimento dos modelos instrumentais e funcionais na produção contemporânea; a produção científica da autora na problematização das relações entre comunicação massiva e midiática, no aprofundamento das problemáticas culturais, em especial as vinculadas a gênero, rádio e culturas populares. Suas contribuições atuais sobre teoria dos públicos e as inter-relações entre cidadania e comunicação tornaram sua participação instigante para nossos leitores.

    Participa conosco, também, um dos maiores especialistas no ramo de pesquisa da pesquisa, Raúl Fuentes Navarro, do Instituto Tecnológico Equinoccial (Iteso) de Guadalajara, que durante 25 anos tem realizado um levantamento da produção de pesquisa em comunicação no México, apresentando sistematizações de enorme valia para a pesquisa em comunicação no seu país e na América Latina. Seu texto, “Do intercâmbio das mensagens à produção de sentido: implicações de uma perspectiva sociocultural no estudo da comunicação”, propõe uma reformulação de vários dos termos centrais do campo acadêmico em comunicação, nos níveis metodológico, teórico e epistemológico; em síntese, busca pensar o campo a partir da produção teórica e investigativa do campo, situando-o na realidade latino-americana.

    O professor Erick R. Torrino Villanueva, da Universidade Andina Simón Bolívar, sede La Paz, Bolívia, é um construtor destacado do campo na América Latina; atualmente ocupa o cargo de presidente da Alaic, e tem contribuído de maneira decisiva para a constituição do campo de estudos na Comunidade Andina de Nações. Seu texto, “Aproximação à comunicação como cultura acadêmica e suas proposições teóricas gerais”, fundamenta sobre a existência de uma cultura que trabalha os processos de produção, circulação, intercâmbio e usos de sentidos culturais, buscando situar proposições teóricas articuladoras da sua constituição.

    O professor Manel Mateu i Evangelista, da Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha, apresenta o texto “Tem sentido a televisão pública? Futuro, presente, passado”, uma reflexão que foca a problemática da produção televisiva na conjuntura da digitalização e os entraves mercadológicos à produção pública de audiovisual. O autor concentra na sua práxis uma tríplice dimensionalidade: pesquisador, profissional da televisão e pesquisador, produzindo pensamento comunicacional de especial contribuição para o momento, de passagem à digitalização que experimentamos no Brasil e na Europa.

    A professora-pesquisadora Jiani Adriana Bonin, destacada metodóloga do campo das ciências da comunicação no Brasil, contribui com uma reflexão sobre o ensino de teoria da comunicação. O foco do texto “Elementos para pensar a formação e o ensino em teorias da comunicação” procura sugerir desenhos e estratégias de produção teórica nos ambientes universitários da área, tradicionalmente marcados por uma cultura instrumental-empirista de insignificante produção teórica. Suas reflexões expressam a seriedade e a força demonstrada nas relevantes pesquisas que sobre comunicação, recepção, identidades culturais e etnias tem produzido na última década.

    O pesquisador uruguaio Pedro Russi Duarte apresenta o texto “A dinâmica da pesquisa como processos e interações comunicacionais...reflexões”; nele, esse destacado professor apresenta um conjunto de questões teóricas de singular interesse para a produção de pesquisa em comunicação. Problematiza as relações entre sujeito e objeto da investigação, mostrando o caráter criativo da pesquisa numa perspectiva epistemológica de rupturas.

    O professor Luis Ignacio Sierra Gutiérrez é pesquisador da Universidade Javeriana de Bogotá, Colômbia, e tem contribuído para uma reflexão aprofundada e sistemática sobre as inter-relações mídia/religião. Seu texto “Uma aproximação trans e interdisciplinar do campo da comunicação” aporta para uma (re)contextualização dos saberes em comunicação a partir das ciências sociais. Sierra é um pensador que mostra a fineza e sofisticação do pensamento teórico colombiano, oferecendo ao leitor a oportunidade de diálogos e confrontações com seus argumentos.

    O professor Alberto Pereira Valarezo, da Universidade Central do Equador, contribui com uma interessante argumentação sobre: “Da teoria geral da enunciação à enunciação televisiva”. Esse pesquisador é uma referência na produção teórica da área em seu país, constituindo-se num construtor/ desbravador do campo nesse contexto.

    Meu ensaio “Teoria da comunicação: interculturalidade, filosofia, linguagem e sociedade” busca problematizar a comunicação em termos de pesquisa teórico-epistemológica em diálogo com os pensamentos da Filosofia Analítica (Wittgenstein, Pitkin e Haller), e estabelecer relações entre pensamento, modos de vida, sentimentos e discurso numa perspectiva metodológico-crítica que contribui para a formulação de problemas teóricos em comunicação. Busco, no texto, mostrar que a práxis filosófica está situada no mundo intercultural dos fluxos sociais contemporâneos e no respeito às alteridades epistêmicas, numa confluência transformadora.

    Os jovens e destacados pesquisadores Juciano de Souza Lacerda e Manuela Rau de Almeida Callou apresentam uma entrevista realizada na Universidade Gregoriana de Roma com o emérito professor Robert White, figura central na divulgação do pensamento comunicacional latino-americano no mundo. O texto mostra as reflexões históricas, éticas e sociológicas de quem assume o desafio de construir o campo na África, concretamente na Tanzânia, como fechamento de um ciclo que se iniciou nos Estados Unidos, passou pela América Central, foi para a Grã-Bretanha, concentrou energias em Roma e articulou ação comunicacional em termos globais.

    Mônica Bernardo Schettini Marques, doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP, traz o ensaio “Semiótica e contexto”, em que mostra que, embora Peirce tenha construído uma teoria de caráter geral, aplicável às mais variadas situações da natureza e da cultura, e não uma teoria que tivesse como objeto de estudo o século XIX e suas transformações, o contexto em que o autor se insere revela-se em sua produção. Ao longo do texto salienta, também, a emergência de uma crescente consciência semiótica nos oitocentos e aponta para as raízes da Semiótica na concepção de método científico do autor.

    Agradeço aos autores colaboradores deste número especial internacional, latino e ibero-americano pela atenção e responsabilidade com nosso trabalho. Reitero meus reconhecimentos ao Conselho Editorial da revista Conexão/Comunicação e Cultura pela deferência ao me convidar como editor.

    Espero que nosso trabalho instigue e informe aos nossos leitores sobre aspectos questionadores do campo e da produção teórica em comunicação, motivando-os para a produção, o debate e o diálogo produtivos no contexto da pesquisa transformadora contemporânea.

    A. Efendy Maldonado

    Editor Convidado

     

    Marlene Branca Sólio e Rudimar Baldissera

    Editores

  • Comunicação Organizacional
    v. 4 n. 07 (2005)

    APRESENTAÇÃO

    Sociedade de organizações. São cada vez maiores a importância e o poder – econômico, político, simbólico – que as organizações assumem socioculturalmente. Apresentam-se e são percebidas como possibilidade de desenvolvimento, de mais qualidade de vida, de satisfação de desejos, de inclusão, mas, também, como expropriadoras, usurpadoras e coadjuvantes na geração das mazelas que a sociedade experimenta hoje. Ao mesmo tempo, prometem facilidades em processos e tecnologias para os fazeres cotidianos da sociedade, e procuram, mediante estratégias diversas, levar os públicos ao consumo de seus produtos e serviços. Desejam instituir-se como modelos a seguir.

    Nesse sentido, fazem uso de sondagens e/ou pesquisas de mercado, de opinião, de imagem-conceito; de estudos socioculturais; de diagnósticos e prognósticos para dominar os códigos dos públicos de interesse e, de posse desse saber, estrategicamente construir discursos que espelhem os padrões socioculturais dos públicos-alvo. Ao se reconhecerem nos discursos organizacionais, é provável que os públicos simpatizem com tais organizações, inclinando-se a reconhecê-las como exemplares. Isso não significa dizer, no entanto, que as organizações são essencialmente más. O que se pretende é ressaltar a importância de as organizações atualizarem em seus pressupostos básicos a ética do comprometimento, conforme propõe Lipovetsky (2004).

    O evidente poder assumido pelas organizações frente à comunidade e ao setor público exige que se reflita sobre o lugar dessas organizações na sociedade contemporânea. É preciso atentar criticamente para suas ações, discursos e concepções de modo que se possa avaliar, dentre outras coisas, os níveis de seu comprometimento ecossistêmico. Vale dizer que a noção de organização carrega consigo a idéia de fortalecimento, de decisão, de princípios norteadores (explícitos ou não), de qualificação, de busca estética do bem maior.

    Organização é comunicação; e a comunicação – como relação – é condição para a existência organizacional. Da mesma forma, quer parecer que a compreensão que a organização tem da comunicação espelha sua postura ecossistêmica, ou seja, se a comunicação é compreendida como possibilidade de manifestação da diversidade, como processo democrático, como lugar para a realização dos vários sujeitos organizacionais, é provável que as materializações comunicacionais nessa/dessa organização se caracterizem como fluxo multidirecional. Por outro lado, se a comunicação for compreendida apenas como processo de circulação de informações, experimenta-se uma comunicação com tendência a ser restritiva e, em alguns casos, mesmo castradora.

    Frente a esse quadro, a comunicação organizacional se apresenta como importante campo de estudo, superando ranços como área de conhecimento e instituindo-se num lugar de transdisciplinaridade, perspectiva que enriquece o todo e cada parte simultaneamente.

    Foi com o objetivo de contribuir com esse lugar de reflexão que a revista Conexão, Comunicação e Cultura, em sua sétima edição, contemplou a proposta temática “Comunicação organizacional e Relações Públicas”. Os estudos que integram este volume refletem parte da reflexão que acontece no País e, o que é muito importante, somam de maneira muito rica para que essa discussão avance.

    Marlene Branca Sólio e Rudimar Baldissera
    Editores

  • Ciberespaço, Comunicação e Criação
    v. 3 n. 06 (2004)

    APRESENTAÇÃO

    A relação entre criação e comunicação na cibercultura foi o norte escolhido para o presente número da revista Conexão. O tema que considera as formas de produção e de circulação de informações no ciberespaço é tratado por especialistas brasileiros, de atuante desempenho na área de Comunicação, convidados a integrar este volume. A gama variada de enfoques, determinados pelos próprios autores, configura a presença decisiva das tecnologias e a imperiosa necessidade de se refletir sobre as formas de comunicação na era digital. Por meio de textos analíticos, a edição oferece aos seus leitores um percurso criativo e detalhado pelos meandros de diversas linguagens, da poesia ao vídeo, do cinema, à realidade virtual imersiva e aos games, tendo como base o espaço rico de criação com as tecnologias digitais e os fenômenos da comunicação interativa.

    O leitor encontrará ensaios que problematizam noções arraigadas como a de autoria, assim como propõem novos conceitos como o de interestética, repercutindo em questões da cultura digital na estética midiática contemporânea. A coletânea traz, ainda, ensaios pontuais sobre a influência da cultura digital, descentralizando e potencializando linguagens tradicionais como a do vídeo e a do cinema, retomando, neste último caso, bandeiras estéticas do anos 60 como o fim da moldura e a participação na obra, até se chegar na interatividade e imersão. É oferecido um panorama histórico sobre a arte telemática e suas práticas coletivas, assim como uma discussão sobre a idéia de imaginário como uma capacidade virtual por excelência de cada indivíduo.

    Ao expandir o campo de percepção, o ciberespaço oferece novas experiências sensórias, conjugando sistemas biológicos e artificiais. Comenta-se, neste caso, produções artísticas específicas como a imersão emcaves. O corpo dotado de interfaces é apresentado em uma das modalidades mais recentes e de alto potencial, a do computador “vestível”. Outro tema de criação que oferece a comunicação em moldes interativos e imersivos, trazido pelo ciberespaço é o dos jogos eletrônicos aqui tratado com o início da história dos games eletrônicos, fenômeno capaz de fomentar, até hoje, a criatividade de designers, programadores, artistas, músicos e cineastas. Aborda-se, por fim, questões da poética digital dirigida para o público infantil e o imaginário da cibercultura, enfatizando sua corrente de ficção-científica, os chamados cyberpunks.

    No segmento Conexões, apresenta-se importante defesa sobre uma mudança epistemológica na comunicação gráfica contemporânea. No encerramento, o cinema volta à tona, desta vez sob o viés de sua força poética de denúncia.

    Diana Domingues
    Editora convidada

    Maurício Moraes
    Editor executivo

  • Turismo; Rádio; Semiótica
    v. 3 n. 05 (2004)

    APRESENTAÇÃO

    Nomadismo, peregrinações, migrações e turismo têm sido algumas das categorias utilizadas por distintos pensadores, em diversas áreas do conhecimento, para tentar entender uma das marcas do momento contemporâneo: o constante deslocamento de camadas significativas da população para locais diferentes do seu de origem. Este número de Conexão – Comunicação e Cultura aprofunda a reflexão em torno do turismo, como aquela categoria que procura estudar os deslocamentos espontâneos, em geral, em busca de lazer, entretenimento, conhecimento e cultura.

    Nos seus primórdios, a partir do Renascimento, o turismo envolveu um número relativamente pequeno de pessoas, cuja origem de classe seria, em sua maioria, composta por aqueles segmentos mais abonados da população, com poucas conseqüências sobre os locais visitados. Agora, quando o fenômeno envolve números quase assustadores de visitantes, o turismo se torna complexo pelos desdobramentos daí advindos em termos econômicos mas também sociais, culturais, ecológicos e comunicacionais.

    Não foi por acaso, portanto, que os primeiros cursos de Turismo, no Brasil, surgiram com os cursos de Comunicação, entre outros, na USP e na PUC do Rio Grande do Sul, lá nos anos 70. De certa maneira, a Academia antecedia o mercado que viu, a partir dos anos 80, importantes grupos de comunicação criarem braços empresariais para atender às demandas crescentes de um mercado de lazer em expansão. A Disney é apenas um dos exemplos, pois, além dos famosos parques temáticos, possui, entre outros, navios de cruzeiros e aviões.

    Outro passo no reconhecimento das inúmeras aproximações entre o Turismo e a Comunicação está sendo dado pela Intercom, que, no seu congresso de 2004, inaugura o Núcleo de Pesquisas de número 19, dedicado à Comunicação, Turismo e Hospitalidade. Na sua ementa, o NP 19 propõe o estudo da Comunicação no âmbito do Turismo e da Hospitalidade no Brasil, o aprofundamento das especificidades da comunicação que promove a aproximação e a boa vontade entre visitantes e visitados, o estudo semiótico da comunicação em turismo e hospitalidade, entre outros.

    A revista Conexão reuniu alguns pensadores de destaque na área do turismo, para traçar um panorama da questão, dando aos nossos leitores uma visão de suas complexidades. Abrimos com o texto da professora mexicana Maribel Osorio García, que contextualiza os deslocamentos historicamente e suas implicações sociais. O geógrafo Antonio Carlos Castrogiovanni centra sua reflexão sobre o espaço criado nas práticas do turismo e como, neste caso, a significação das diferentes espacializações dos lugares turísticos está associada à construção de imagens evocadas pela comunicação. Margarita Barretto resgata estudos sobre o relacionamento entre visitantes e visitados e os impactos culturais e comunicacionais daí decorrentes, tema que será aprofundado no estudo de caso apresentado pela professora Yolanda Flores e Silva e por Rafael Bremer Cyrillo.

    O viajar, indo de lugar em lugar sem maiores responsabilidades – como o pede o desfrute de férias e passeios – é privilégio dos turistas. Compreender o fenômeno, minimizar seus possíveis efeitos danosos, promover a boa vontade entre visitantes e visitados, quer com ações de intervenção, quer com estudos e pesquisas acadêmicas rigorosos, têm sido uma tarefa desenvolvida com zelo pelos profissionais envolvidos. É essa preocupação e esses encaminhamentos que Conexão se propõe a apresentar, registrando porque, aos poucos, o turismo se consolida como uma área de conhecimento, em íntima relação com outros fenômenos sociais.

    Nos demais segmentos, a presente edição oferece uma panorâmica pelas tendências contemporâneas da programação de rádio, a partir da tecnologia digital, nos Estados Unidos e na Europa. Segue na reconstituição de fragmentos históricos da radiofonia nas suas vertentes educativa e religiosa, focando, tanto produções específicas e pontuais como a Hora da Ave-Maria até a experiência pastoral católica na América Latina. Reservamos para nossos leitores mais duas reflexões: um debate sobre a emergência da Intranet no cotidiano das organizações e uma discussão sobre elementos lógicos da linguagem a partir das contribuições de Peirce e Aristóteles.

    O encarte ilustrativo deste número traz uma breve história da Livraria e Editora Globo que, do Sul do Brasil proporcionou a gerações de leitores edições paradigmáticas de Balzac, Proust, Thomas Mann ou Virgínia Woolf. Segunda maior casa editorial entre os anos 30 e 50 do século XX, tinha na Revista do Globo, que nasceu com a chancela e proteção de Getúlio Vargas, uma escola de artistas gráficos. Suas produções eram de tal gabarito que até hoje suas capas são exemplares pela maestria do traço e pela sedução visual dos conceitos ou pela originalidade dos imprevisíveis logotipos. Recortamos e tomamos de empréstimo a capa do primeiro número, a bela imagem de uma moça que pega o mundo (Globo) em suas mãos. É nossa homenagem à escola de Ernest Zeuner, ao desejo de deslocar-se, mesmo na província, em busca do diferente, do novo, do sabor.

    Suzana Gastal 
    Editora convidada

    Cida Golin e Maurício Moraes 
    Editores-executivos

  • Economia Política da Comunicação e Cultura
    v. 2 n. 04 (2003)

    APRESENTAÇÃO

    A revista Conexão escolheu como ênfase do seu quarto número a perspectiva analítica da Economia Política da Comunicação e da Cultura. Por meio de artigos de reconhecidos especialistas na área, organizamos um recorte do fenômeno comunicacional percebido pelo viés crítico e sensível às novas formas de mediação, desigualdade e controle num tempo de obsessiva inovação tecnológica e facilidades para circulação de capitais, mercadorias e mensagens em escala planetária. A maioria dos autores deste segmento temático participa da rede de Economia Política das Tecnologias da Informação e da Comunicação (Eptic), criada em 1999, na Universidade Federal de Sergipe, iniciativa pioneira que agrega, hoje, pesquisadores nacionais e internacionais. O grupo recebeu, em 2003, o prêmio Luiz Beltrão, categoria Grupo Inovador, da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e Cátedra Unesco – Umesp.

    O núcleo principal da edição abre com um texto referencial, situando a Economia Política e o pensamento crítico latino-americano no percurso dos estudos comunicacionais; configura uma panorâmica breve de seus conceitos, métodos e estratégias interdisciplinares para pensar as mudanças geopolíticas e econômicas nos sistemas culturais contemporâneos. O ensaio seguinte centra o foco nas modificações econômicas e sociológicas produzidas pelo desenvolvimento das redes eletrônicas num mercado globalizado, as novas configurações do espaço público e privado dentro da fase atual de reestruturação das economias capitalistas. O capítulo posterior, por sua vez, dá visibilidade às conclusões de uma pesquisa recente desenvolvida na Espanha sobre o impacto das novas redes digitais no conjunto das indústrias culturais. Dentro da perspectiva da Economia Política, a discussão segue enfatizando a importância do papel do receptor como um vértice dessa área de pesquisa e o quanto o investimento em sua análise pode se traduzir num encontro profícuo com os estudos culturais. A reflexão avança articulando a Economia Política com outras disciplinas do campo da comunicação, esclarecendo aspectos da esfera pública e sua relação com a cultura midiática. O caso da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), instância reguladora da indústria das telecomunicações no Brasil, é visto, a seguir, como um mecanismo reforçador do papel do Estado na sociedade. Por fim, o núcleo temático encerra com uma minuciosa abordagem crítica sobre as estratégias de produção, circulação e consumo dos discursos sobre o trabalho.

    O segmento conexo dessa edição abriga dois artigos de temáticas paralelas à ênfase escolhida: o primeiro investiga os aspectos metodológicos da vigília e da inteligência estratégicas na gestão da informação, e o segundo oferece um apanhado das teorias administrativas e de sua relação com os processos comunicacionais nas organizações.

    O quarto número da revista Conexão fecha com três temas convergentes e capazes de oferecer ao leitor uma reflexão sobre o conceito contemporâneo de cultura, o atual papel da memória nos processos de musealização e a discussão dos museus e de suas práticas sob a perspectiva da comunicação. Escolhemos para a capa, com ampliação no encarte especial, a série Nexos do fotógrafo gaúcho Manuel da Costa, cujo trabalho rigoroso surpreende na sua tarefa de transformar o referente num significante que desliza e descondiciona o olhar.

    Cida Golin e Maurício Moraes 
    Editores

  • Mídia Sonora
    v. 2 n. 03 (2003)

    APRESENTAÇÃO

    A revista Conexão – Comunicação e Cultura, visando à consolidação de edições temáticas, dedica este terceiro número a uma das mídias mais populares do país, o rádio octogenário – linguagem temporal capaz de criar vínculos sensoriais e de afeto com seus ouvintes e de se constituir em pano de fundo de boa parte da história política e cultural do Brasil no século XX. Ao reunir pesquisadores brasileiros, a maioria integrante do Núcleo de Mídia Sonora da Sociedade de Estudos Interdisciplinares em Comunicação (Intercom), a revista abre com um itinerário histórico a partir da polêmica fundante sobre a paternidade do veículo: Landell ou Marconi? Segue com a revisão dos instantes precursores da prática do jornalismo sonoro e com as anotações de dois importantes profissionais da área, o locutor Heron Domingues e a fonoaudióloga Maria da Glória Beütenmuller. Percorre também a utilização do rádio em Porto Alegre, como um instrumento político na Segunda Guerra Mundial, bem como a influência da emissora carioca Jornal do Brasil AM na consolidação de um estilo que levou o Jornal do Brasil a ser uma referência na área da imprensa escrita.

    Em seguida, dialogando com um referencial importante da teoria literária, a Estética da Recepção de Jauss, é a vez de revisar o valor de permanência do rádio. Avançando na reflexão, abre-se para um complexo resgate das suas origens científicas e filosóficas, iluminando uma mídia que ganha novos contornos no espaço cibernético. No segmento dedicado ao radiojornalismo, discutem-se a pertinência de conceitos comuns ao ensino e seus limites impostos pela era eletrônica, a reportagem enquanto objeto estético e um estudo sobre o documentário radiofônico. A fidelidade do ouvinte e os tipos de programação – como o Reality Show e as produções que conservam dialetos regionais – também são abordados nesse módulo temático. O conjunto temático encerra com uma discussão sobre a influência das mídias sonoras na aprendizagem da música.

    Para finalizar a leitura, contemplam-se outros temas de interesse na área da Comunicação, como as interfaces de produção de um jornal empresarial, o resgate histórico da imprensa na antiga Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul, as possibilidades museológicas na cultura virtual e uma densa reflexão sobre a importância de uma ecologia da ação, baseada na comunicação e na (re)educação como uma das possibilidades do homem para superar uma nova crise da racionalidade.

    Cida Golin e Maurício Moraes 
    Editores

  • Cruzamentos: Literatura e Imprensa; Arte e Comunicação
    v. 1 n. 02 (2002)

    APRESENTAÇÃO

    A possibilidade de diálogos interdisciplinares norteou uma parte expressiva do segundo volume da revista Conexão – Comunicação e Cultura, uma produção da Universidade de Caxias do Sul, por meio do seu Centro de Ciências Humanas, Departamento de Comunicação e Educs. No primeiro segmento, o leitor encontrará cruzamentos significativos entre a história literária e a imprensa. É possível conhecer, sob outro viés, o legado de José Alencar, desta vez o jornalista ferino, que conduziu diversas polêmicas travadas em periódicos do século XIX. Em seguida, percorremos o texto híbrido da crônica, mistura de literatura e jornalismo, pela análise de seus grandes mestres, Machado de Assis, João do Rio e Rubem Braga. As atividades jornalística e política do crítico literário Otto Maria Carpeaux, na Europa que vivia a ascensão do nazismo, também são iluminadas neste volume. Por fim, avançando no campo reservado para a obra de arte, trazemos, na companhia de um encarte colorido, o chamado livro de artista, que compartilha territórios da comunicação e do projeto gráfico.

    Na segunda parte da revista, o leitor interessado encontrará discussões pontuais sobre o encontro das histórias em quadrinhos com o universo digitalizado da Web, uma panorâmica dos problemas de informação e comunicação incrustados nos acervos brasileiros de memória, além de uma série de artigos versando sobre a gestão do conhecimento e a expansão das TICs. As abordagens seguintes, relativas à televisão, também situam-se em torno da economia política e das lógicas de mercado. No encerramento, um passeio pelas incertezas da pós-modernidade e suas possíveis articulações em torno da identidade e da marca de grandes organizações.

    Com a concretização de mais um número, reunindo articulistas da Universidade de Caxias do Sul, de diversas Universidades brasileiras e do exterior, convidamos à leitura e à colaboração mediante o envio de originais pertinentes à nossa linha editorial, expressa nas páginas finais. Dessa forma, consolidaremos a revista Conexão – Comunicação e Cultura como um espaço aberto de interlocução entre investigadores e de divulgação de suas inquietações, elemento fundamental no cotidiano acadêmico e no fomento à pesquisa.

    Cida Golin e Maurício Moraes 
    Editores

  • História da Comunicação
    v. 1 n. 01 (2002)

    APRESENTAÇÃO

    A Universidade de Caxias do Sul, através do seu Centro de Ciências Humanas e Comunicação, especialmente do Departamento de Comunicação, sente-se privilegiada por trazer à comunidade acadêmica e aos leitores em geral o primeiro número da revista científica Conexão — Comunicação e Cultura. Abre-se aqui mais um veículo de interlocução entre pesquisadores, elemento fundamental para o fomento da pesquisa, do intercâmbio e do amadurecimento das discussões em torno da Comunicação. Com o apoio técnico de um Conselho Editorial representativo pela sua qualidade acadêmica, com projeção nacional e internacional, o periódico pretende dar oportunidade à possibilidade de diálogos interdisciplinares, além de aglutinar articulistas internos e externos à nossa instituição. Cremos que, já na primeira edição, esse último objetivo está contemplado na reunião que congregou professores de diversas Universidades do Rio Grande do Sul.

    Com periodicidade semestral, impressa em papel e com distribuição eletrônica, a revista Conexão — Comunicação e Cultura nasce em busca de reflexões inéditas, enfatizando questões relacionadas à ética, à comunicação, à história da mídia, às tendências do setor em suas múltiplas facetas e às discussões de linguagem. Com isso, pretende trazer à tona temas atuais e pertinentes, além de privilegiar o resgate histórico das práticas comunicacionais.

    Nessa edição, dentro da linha de recuperação documental da História da Comunicação, damos visibilidade, num encarte especial, ao trabalho minucioso de Ernst Zeuner (1895-1967), mestre dos ilustradores gaúchos. Foi nas oficinas gráficas da editora Globo, selo de abrangência nacional, que Zeuner formou uma equipe de artistas atentos à qualidade visual dos logotipos, anúncios, cartazes e folhetos e das famosas ilustrações para revistas e livros. Em meados dos anos 50, o artista formado na Academia de Artes Gráficas de Leipzig, deixou uma série memorável de ilustraçõesrealizadas para a Revista do Ensino. Numa época de poucos recursos pedagógicos, as cenas eram protótipos para exercícios de textos descritivos. Em têmpera, Zeuner documentou, didaticamente, o cotidiano do seu país e o período em que a televisão apropriava-se, aos poucos, da sala e da atenção da classe média brasileira.

    O primeiro número abre com um panorama sobre a concentração da propriedade no setor de comunicações. Os três ensaios seguintes têm o mercado brasileiro de televisão aberta como eixo, desdobrando-se numa recuperação histórica e tendências dessa mídia, além de centrar o foco na recepção e estrutura de linguagem do telejornalismo, tendo como objeto de estudo o Jornal Nacional. No segmento seguinte, é a vez de recuperar o legado de Glauber Rocha, seja pelo diálogo entre literatura e cinema, seja pelo contraponto com outras experiências da cinematografia brasileira.

    No âmbito das tecnologias virtuais, os articulistas desdobram os conceitos de real e virtual, além de recuperar percursos de mídias declaradas obsoletas, mas que ressurgem apoiadas na inovação digital e no próprio esquecimento do público. Dentro da significação em jogo proposta pelo design gráfico, a discussão teórica prossegue nas possíveis confusões entre representação e expressão.

    Duas pesquisas realizadas em Caxias do Sul e em municípios vizinhos da região serrana do Rio Grande do Sul são relatadas neste volume. A primeira trata sobre a identidade visual no espaço urbano, e a segunda, sobre o impacto das novas tecnologias na comunicação das indústrias metal-mecânica e elétrica. Ainda dentro da área da comunicação organizacional, discute-se a dimensão da estratégia como imperativo para obtenção de resultados, assim como a história e a recepção do jornalismo para organizações no País.

    Lembramos que o periódico está aberto para colaborações em secções fixas de ensaios, artigos, resenhas, podendo abrigar dossiês temáticos, entrevistas, reprodução de fontes documentais, além de ensaios fotográficos. Dessa forma, desejamos que a revista Conexão – Comunicação e Cultura, da Universidade de Caxias do Sul tenha uma boa acolhida entre os pesquisadores e interessados em geral e que possa se configurar num veículo produtivo e criativo capaz de revelar o melhor da palavra saber, segundo a Aula de Roland Barthes, ou seja, o seu sabor.

    Cida Golin e Maurício Moraes

    Editores

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