v. 3 n. 05 (2004): Turismo; Rádio; Semiótica
APRESENTAÇÃO
Nomadismo, peregrinações, migrações e turismo têm sido algumas das categorias utilizadas por distintos pensadores, em diversas áreas do conhecimento, para tentar entender uma das marcas do momento contemporâneo: o constante deslocamento de camadas significativas da população para locais diferentes do seu de origem. Este número de Conexão – Comunicação e Cultura aprofunda a reflexão em torno do turismo, como aquela categoria que procura estudar os deslocamentos espontâneos, em geral, em busca de lazer, entretenimento, conhecimento e cultura.
Nos seus primórdios, a partir do Renascimento, o turismo envolveu um número relativamente pequeno de pessoas, cuja origem de classe seria, em sua maioria, composta por aqueles segmentos mais abonados da população, com poucas conseqüências sobre os locais visitados. Agora, quando o fenômeno envolve números quase assustadores de visitantes, o turismo se torna complexo pelos desdobramentos daí advindos em termos econômicos mas também sociais, culturais, ecológicos e comunicacionais.
Não foi por acaso, portanto, que os primeiros cursos de Turismo, no Brasil, surgiram com os cursos de Comunicação, entre outros, na USP e na PUC do Rio Grande do Sul, lá nos anos 70. De certa maneira, a Academia antecedia o mercado que viu, a partir dos anos 80, importantes grupos de comunicação criarem braços empresariais para atender às demandas crescentes de um mercado de lazer em expansão. A Disney é apenas um dos exemplos, pois, além dos famosos parques temáticos, possui, entre outros, navios de cruzeiros e aviões.
Outro passo no reconhecimento das inúmeras aproximações entre o Turismo e a Comunicação está sendo dado pela Intercom, que, no seu congresso de 2004, inaugura o Núcleo de Pesquisas de número 19, dedicado à Comunicação, Turismo e Hospitalidade. Na sua ementa, o NP 19 propõe o estudo da Comunicação no âmbito do Turismo e da Hospitalidade no Brasil, o aprofundamento das especificidades da comunicação que promove a aproximação e a boa vontade entre visitantes e visitados, o estudo semiótico da comunicação em turismo e hospitalidade, entre outros.
A revista Conexão reuniu alguns pensadores de destaque na área do turismo, para traçar um panorama da questão, dando aos nossos leitores uma visão de suas complexidades. Abrimos com o texto da professora mexicana Maribel Osorio García, que contextualiza os deslocamentos historicamente e suas implicações sociais. O geógrafo Antonio Carlos Castrogiovanni centra sua reflexão sobre o espaço criado nas práticas do turismo e como, neste caso, a significação das diferentes espacializações dos lugares turísticos está associada à construção de imagens evocadas pela comunicação. Margarita Barretto resgata estudos sobre o relacionamento entre visitantes e visitados e os impactos culturais e comunicacionais daí decorrentes, tema que será aprofundado no estudo de caso apresentado pela professora Yolanda Flores e Silva e por Rafael Bremer Cyrillo.
O viajar, indo de lugar em lugar sem maiores responsabilidades – como o pede o desfrute de férias e passeios – é privilégio dos turistas. Compreender o fenômeno, minimizar seus possíveis efeitos danosos, promover a boa vontade entre visitantes e visitados, quer com ações de intervenção, quer com estudos e pesquisas acadêmicas rigorosos, têm sido uma tarefa desenvolvida com zelo pelos profissionais envolvidos. É essa preocupação e esses encaminhamentos que Conexão se propõe a apresentar, registrando porque, aos poucos, o turismo se consolida como uma área de conhecimento, em íntima relação com outros fenômenos sociais.
Nos demais segmentos, a presente edição oferece uma panorâmica pelas tendências contemporâneas da programação de rádio, a partir da tecnologia digital, nos Estados Unidos e na Europa. Segue na reconstituição de fragmentos históricos da radiofonia nas suas vertentes educativa e religiosa, focando, tanto produções específicas e pontuais como a Hora da Ave-Maria até a experiência pastoral católica na América Latina. Reservamos para nossos leitores mais duas reflexões: um debate sobre a emergência da Intranet no cotidiano das organizações e uma discussão sobre elementos lógicos da linguagem a partir das contribuições de Peirce e Aristóteles.
O encarte ilustrativo deste número traz uma breve história da Livraria e Editora Globo que, do Sul do Brasil proporcionou a gerações de leitores edições paradigmáticas de Balzac, Proust, Thomas Mann ou Virgínia Woolf. Segunda maior casa editorial entre os anos 30 e 50 do século XX, tinha na Revista do Globo, que nasceu com a chancela e proteção de Getúlio Vargas, uma escola de artistas gráficos. Suas produções eram de tal gabarito que até hoje suas capas são exemplares pela maestria do traço e pela sedução visual dos conceitos ou pela originalidade dos imprevisíveis logotipos. Recortamos e tomamos de empréstimo a capa do primeiro número, a bela imagem de uma moça que pega o mundo (Globo) em suas mãos. É nossa homenagem à escola de Ernest Zeuner, ao desejo de deslocar-se, mesmo na província, em busca do diferente, do novo, do sabor.
Suzana Gastal
Editora convidada
Cida Golin e Maurício Moraes
Editores-executivos