v. 10 n. 19 (2011): Ensino e Apendizagem em Comunicação

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APRESENTAÇÃO

Para a edição 19 de nossa Conexão, convocamos pesquisadores e estudiosos a refletir sobre questões relacionadas ao ensino e à aprendizagem em Comunicação. A edição apresenta 12 artigos, seis dos quais integram a questão posta: Temos: Ensino de Jornalismo: perfil profissional, regionalização das habilidades técnicas e competências (Pedro Celso Campos e Eleni Oliveira Rocha), que busca um cotejo entre academia e mercado, passando por uma análise da flexibilização curricular empreendida aos cursos da área pelo MEC; Do discurso à educação: reflexões sobre comunicação e cultura contemporânea (Wilton Garcia e Rosália Maria Netto Prados), que observa o processo de ensino e aprendizagem em Comunicação, apontando às relações interdisciplinares entre mídia e mercado; Ensinar ética e assumir responsabilidades: os novos desafios para as empresas informativas (Dilnéia Rochana Tavares do Couto e Jovino Pizzi), que olha para a ética e a responsabilidade social das empresas informativas a partir dos códigos éticos das organizações enquanto são instrumentos de gestão ética; TV multimídia e sua relação com a Comunicação, a escola e a juventude (Elizandra Jackiw, Luis Otávio Dias e Rosa Maria Cardoso Dalla Costa), que investiga a interação da TV multimídia com professores, alunos, cultura e escola, destacando experiência desenvolvida no Paraná; O ensino de planejamento nos cursos de Comunicação/Relações Públicas no Brasil (Marlene Marchiori, Paulo Nassar, Regiane Ribeiro e Suzel Figueiredo), que discute o valor do ensino de “planejamento”, com equilíbrio entre a abordagem operacional e a estratégia, transitando entre a teoria e a prática; Ensino “pra que te quero”?: práticas desejantes, amorosas e autopoiéticas no ensino de Comunicação (Maria Luiza Cardinale Baptista), que reflete sobre a possibilidade de desenvolvimento de práticas desejantes, amorosas e autopoiéticas no ensino de Comunicação como dispositivo de agenciamento da mobilização do sujeito para a aprendizagem.

Destacamos esse conjunto de artigos por contemplarem a questão do ensino e aprendizagem, mas convidamos nossos leitores a visitarem a seção Artigos Conexão, onde outro conjunto de temas discute questões igualmente importantes. Independentemente da abordagem adotada e dos aspectos destacados no dossiê temático ensino e aprendizagem, sentimo-nos compelidos a traçar algumas reflexões.

Talvez seja importante iniciarmos com o modelo de sociedade no qual estamos inseridos: neoliberal. Por conta dele, as instituições de ensino são vistas como mais um dos tantos “negócios” oferecidos pelo mercado; precisam, evidentemente, oferecer um balanço azul se quiserem sobreviver; devem olhar para aqueles que batem à sua porta como clientes; enfrentar, cotidianamente, a concorrência, muitas vezes desleal, de centenas de instituições que, sabe-se Deus como, fixam-se no mercado, despejando “toneladas de diplomas” que vão inflacionar esse mesmo mercado e enganar, vergonhosamente, esses mesmos clientes, que, durante sua formação, ditaram ordens, mas que lá fora serão literalmente esmagados pelo vazio de competências que construíram. Mas esse é o cenário. Não estamos falando de causas, portanto.

Desenha-se, a galope, uma sociedade que destituiu de seu mapa a transcendência, a hierarquia, a escala de valores. O vazio da autoridade parece-nos, também, algo de fundamental a postular, a começar pelo apagamento da figura paterna. Aprender significa deparar-se com o não sabido, com o “buraco”, a “falta”, que se desloca sempre na busca de novos saberes. Como diz muito bem Lebrun em Clínica da instituição (2009, CMC), “não se trata de voltar à transcendência substancial, à autoridade da tradição, mas, muito mais, de inventar uma nova convivência, na qual uma palavra seja possível e, na qual os objetivos da ação coletiva continuem a orientar as intervenções singulares”. (p. 62).

O discurso de psicanalistas, organizações e escolas soa como um jogral, nesse aspecto sincronicamente recitado. Os primeiros apontam para o desejo de cobrir a falta, de se recusar a ouvir o não, de se sentir pleno, mesmo que a serviço da frustração e da exploração do outro, que se apaga como uno, servindo simplesmente de duplo, numa perspectiva narcísica. Na escola, o estudante não suporta se haver com o não saber, com o novo, com aquilo que vá exigir dele mergulhar no desconhecido; e nas organizações aquele jovem que chega no mercado de trabalho, não suporta a hierarquia, a obediência a ordens, o cumprimento de protocolos e rituais.

Naturalmente, a sociedade deste início de século já não é a do fim do século passado. Faz-se necessária, sim, uma mudança de paradigmas. Centrar-se nessa discussão pelo viés do tecnicismo, da informação dos simples avanços tecnológicos, porém, é tão inócuo quanto discutir o sexo dos anjos. O problema não está nas máquinas, mas no que o homem está disposto a fazer com elas. E, aí sim, chegamos no ponto que interessa: ensino versus aprendizagem. Em pleno século XXI, podemos invocar Sócrates quando disse que sua única certeza era saber que nada sabia ou quando disse que o saber é um ponto, e que quanto mais aumentamos esse ponto, tanto mais teremos aumentado o não saber que está em torno dele. Está aí, mas uma vez, a falta da qual vai falar Lacan, o mesmo que reclama da “mania” que têm seus alunos de querer saber tudo e de compreender, de imediato, tudo o que leem. Nem tudo está posto. Existe uma parte na construção do saber que é do sujeito, e esse é o grande desafio.

Marlene Branca Sólio
Editora

Publicado: 2011-11-30