v. 5 n. 10 (2006): Design

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APRESENTAÇÃO

A sociedade contemporânea elegeu, como norteadores de seu desenvolvimento, de sua própria evolução, sistemas de informação prioritariamente centrados na imagem. Tudo o que se pode captar por meio do olhar acaba constituindo uma comunicação visual, intencional ou não. Assim, o apelo visual, de design, numa peça gráfica/produto é fundamental.

Paralelamente, o estudo dos processos de comunicação tem contemplado, cada vez mais, vieses polissêmicos e inter/transdisciplinares* de análise. Falar em comunicação e design é falar em expressão gráfica, mas também em marketing e design de produto, em engenharia. Daí, a “mistura de autores e áreas” que buscamos nesta edição da Revista Conexão. Olhares vindos de diferentes perspectivas são enriquecedores, sempre. Parece-nos impossível pensar o mundo “em compartimentos” estanques.

Globalização, chip, saturação, niilismo, simulacro, hiper-real, digital, desconstrução, são palavras-chave deste momento. O movimento chamado pós-moderno por alguns autores desfaz princípios, regras, valores, práticas e realidades. Ele revisita todos os conceitos, agrega, transforma, como uma usina recicladora. O resultado é o ecletismo de tendências. Nesse contexto, o design estetiza o cotidiano. A moda e a publicidade erotizam o dia-a-dia, estimulam o consumo e a posse. Assim, o pósmodernismo é a moeda corrente do capitalismo.

A sociedade contemporânea caminha na direção da ênfase ao conhecimento local, à fragmentação, ao sincretismo, à alteridade e à diferença. Põe em colapso ashierarquias simbólicas rígidas, rompendo a barreira entre a alta-cultura e a cultura popular. Atenua os limites entre aparência e realidade. Vale lembrar Baudrillard e seu simulacro. Para o pensador, a vida contemporânea foi desmontada e reproduzida num escrupuloso fac-símile. A simulação toma a forma de objetos e experiências manufaturados, que tentam ser mais reais do que a própria realidade: segundo Baudrillard, hiper-reais.

O sentido muda permanentemente. É impossível, mesmo para o autor, traduzir o verdadeiro significado de qualquer texto ou obra. Nenhuma comunicação é eficiente. Derrida sugere que tudo o que se pode ter são jogos com possibilidades e hipóteses, com suposições fundamentadas e riscos, às vezes calculados, às vezes não.

Se, de um lado, o “estado” de pós-modernidade acena com a liberdade e com o “tudo se pode”, de outro, traz angústia e incerteza, que abalam profundamente os indivíduos. O modernismo, por sua vez, pensou ter encontrado as respostas para os grandes questionamentos do homem. Levou ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, à supervalorização da informação; dilatou fronteiras; rompeu as barreiras do tempo e do espaço, legando dúvidas multiplicadas, mais questionamentos.

Ao contrário da modernidade, a pós-modernidade promove, na comunicação visual, o jogo, o acaso, a desconstrução, a acumulação, a diversificação e, principalmente, reintroduz o sujeito na atribuição de significação às mensagens visuais, até então “engessadas” por fórmulas preestabelecidas. O século XX vai marcar dois momentos importantes. Seu início aponta a ruptura com a tradição das belas-artes e, o final, a ruptura com a tradição racionalista que ele havia cultivado.

Na mesma medida que traz o novo, o inaugural, o verdadeiramente inusitado, o design contemporâneo parece conter em sua gênese uma dualidade paradoxal: transcende, ao mesmo tempo que continua, o modernismo, pois nada recusa, agregando tudo. Harvey nos mostra que a sociedade da modernidade quer romper com o velho, enquanto se apóia na crença do ordenamento universal, na visão do projeto acabado, na lógica do início, meio e fim, atualizando a vigência do econômico, do despojado, do funcional (Bauhaus). O pós-moderno vai caracterizarse pelo “empilhamento”, pelo ecletismo, pela diversidade. O modernismo buscava distanciamento do passado, enquanto o pós-modernismo o revisita, aceita a tradição, potencializa-a e faz combinações entre seus aspectos. Não há projeto acabado. Há, sim, o inacabado, o contínuo, o instável, o imprevisível, a rede.

Na sociedade contemporânea, assumem valor significativo os aspectos de design, quer falemos em produto, quer nos refiramos a mensagens. O design do produto está intimamente ligado ao marketing, ao valor de venda/consumo. O design gráfico, além de sustentar essa intenção com campanhas publicitárias, passa pela produção simbólica, pela construção do sentido. Ele vai, mais do que vender aquele determinado produto, “criar”, a partir dele, uma imagem/verdade, e será do designer gráfico o papel de construir um discurso que “mostre” um produto harmonioso.

Ao discurso editorial de qualquer peça associa-se o discurso gráfico, inteligentemente utilizado, no sentido de reforçar determinada mensagem ou, no sentido de oferecer ao “leitor” recado complementar/subliminar, muitas vezes não percebido conscientemente.

Traçado esse breve mapa, convidamos nossos leitores a percorrer os caminhos aqui apontados, na perspectiva de diversos autores, levando todos a um mesmo lugar: o design.

* Por interdisciplinaridade: “Síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível do discurso (metanível), caracterizado por uma nova linguagem descritiva e novas relações estruturais” (WEIL et al., 1993, p. 31). Ainda segundo os autores, “a transdisciplinaridade pode ser definida como um estágio superior da interdisciplinaridade, que não se contentaria em atingir as interações ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas situaria essas ligações no interior de um sistema total sem fronteiras estáveis entre as disciplinas.” (Apud Basarab Nicolescu. Science et tradition. Trosisème Millènaire, Paris, n. 23, 1992).

Marlene Branca Sólio

Editora

Publicado: 2007-01-01