v. 9 n. 18 (2010): Intercom

					Visualizar v. 9 n. 18 (2010): Intercom

APRESENTAÇÃO

A presente edição desta publicação não é apenas um balanço, ainda que parcial, do XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, promovido conjuntamente pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), mas do que vem se realizando em pesquisa no campo da Comunicação Social em nosso País.

O conjunto de onze artigos reunidos neste dossiê parte de um depoimento emocionado e emocionante – o de José Marques de Melo, a respeito do surgimento da televisão, no País, e o modo pelo qual a nova mídia introduziu-se e misturou-se em meio às práticas cotidianas das famílias brasileiras, quanto à maneira pela qual ela foi percebida pelos pesquisadores da comunicação.

Logo depois, temos um estudo a respeito de Luiz Beltrão, nosso primeiro Doutor em Comunicação Social. O artigo aborda o lançamento do pioneiro estudo Iniciação à filosofia do jornalismo, completando 60 anos neste momento, e que evidencia não a prevalência histórica, mas a percepção sensível de Luiz Beltrão, quanto aos fenômenos comunicacionais.

Beltrão – o mestre – e José Marques de Melo, seu discípulo, mas que, na prática de sua longevidade, terminou por levar muito mais longe os pontos de vista de seu mentor e orientador, formando, por seu lado, pelo menos duas gerações que se seguiram, de professores e de pesquisadores, formam o dueto que, de certo modo, pauta este conjunto de estudos e marca sua qualidade.

Na sequência, como que a dizer que olhar para o passado não significa voltar as costas para o futuro, seguem-se três artigos que discutem a inclusão digital e as novas tecnologias. O primeiro deles, de Carla Patrícia Pacheco Teixeira e Maria Salett Tauk Santos, faz importante cruzamento entre a tecnologia digital e a perspectiva do localismo, a partir de experiências concretas vividas desde o agreste pernambucano. Logo depois, Adriana Amaral e Sandra Portella Montardo propõem uma análise comparativa entre os estudos norte-americanos e brasileiros sobre o tema, a evidenciar a importância dos colóquios binacionais que a Intercom vem promovendo há anos, possibilitando maior aproximação e compreensão entre estudiosos de diferentes nações, em face dos pesquisadores brasileiros.

Por fim, de certo modo volta-se à perspectiva localista (ou regionalista), quando Lawrenberg Advíncula da Silva e Yuji Gushiken avaliam o papel e a interferência de lan houses no ambiente da cidade de Cuiabá, no distante Mato Grosso.

Um terceiro bloco de mais três artigos passa a discutir aquela que é a mídia mais popular entre nós, e cujo debate foi antecedido pelo artigo de José Marques de Melo, a televisão. Aqui, contudo, a abordagem é sobretudo a partir do presente, desde o artigo de Maria Luiza Cardinale Baptista, discutindo as narrativas televisivas contemporâneas, até uma revisão teórica dos estudos de Iuri Lottman, por Ronaldo Henn, aplicados aos processos de semiósis artísticas, chegando à nova experiência da televisão digital. Os estudiosos da antiga União Soviética, desde Mikhail Backhtin, passando por Jakobson e, mais recentemente, Lotman e Unspenski, têm nos propiciado uma compreensão mais ampla sobre os fenômenos de significação, especialmente quando se aplicam suas teorias às inovadoras experiências de suportes modernos, como a televisão e a internet.

Quanto à televisão digital, tema do artigo de Valdecir Becker e de Marcelo Knörich Zuffo, sua inclusão na realidade brasileira levantou amplos e acirrados debates sobre a importância da existência e do debate público sobre políticas públicas para a comunicação social, desafio para todos os países que vêm experimentando o processo de adaptar-se a novas realidades tecnológicas, sob uma perspectiva de democratização para o acesso de tais mídias.

O último bloco, com mais três artigos, com que se encerra o dossiê, é como que uma evidenciação de que a Intercom preocupa-se tanto com o passado quanto com o futuro e o presente. Aqui, estudam-se o jornalismo cultural do importante “Caderno de sábado”, do Correio do Povo, de Porto Alegre, nos anos 70 e 80, por meio do artigo de Everton Terres Cardoso; quanto se discute a importância do jornalismo de divulgação científica, graças ao estudo de Antonio Roberto Faustino da Costa, Cidoval Morais de Sousa e Fabrício José Mazzoco, na medida em que, se a comunicação é um ambiente em que todos nos encontramos mergulhados, obrigatoriamente, não menos é verdade que, cada vez mais, o desenvolvimento da ciência, em todas as suas manifestações, tem marcado a modernidade e a pós-modernidade. Suas consequências, mesmo que ignoradas, são sofridas por todos nós. É fundamental, assim, que a divulgação científica não apenas propicie melhor compreensão sobre a importância da ciência quanto sobre a necessidade de que se reconheça e se valorize a responsabilidade que os cientistas têm cada vez mais em nossa sociedade.

O dossiê se encerra, não por um acaso, falando daquela mídia que é, ainda hoje, a mais abrangente, porque a mais móvel de tantas quantas podemos desfrutar no momento: o rádio. Essa é a responsabilidade de Nélia R. Del Bianco e Carlos Eduardo Esch, que discutem a adaptação do rádio brasileiro à nova tecnologia digital, ecoando o debate da televisão, e, ao mesmo tempo, evidenciando suas diferenças e suas especificidades.

Em suma, quem tiver acesso à edição desta publicação certamente vai se surpreender com a dinâmica dos debates e com a profundidade das polêmicas aqui levantadas. E vai, sobretudo, dar-se conta de que, queiramos ou não, conscientes ou não, vivemos, sim, um mundo mergulhado em processos de comunicação, que se aguçam e democratizam, ou não, conforme melhor e maior compreensão tenhamos dos mesmos.

À Profa. Dra. Branca Sólio, editora desta publicação, o agradecimento da Intercom pela maneira eficiente e seletiva com que soube formar este dossiê, deixando, assim, documentado, o XXXIII Congresso de nossa entidade, que se realizou na UCS, ao mesmo tempo que publiciza preocupações e análises dos estudiosos do fenômeno comunicacional em se vincularem tanto ao passado, que nos permite compreender o presente, quanto a anteciparem o futuro, a partir das experiências contemporâneas.

Prof. Dr. Antonio Hohlfeldt
Presidente da Intercom

Publicado: 2011-03-01