Áreas de preservação permanentes no Brasil e o caso do balneário de Bonito - MS

meios administrativos, judiciais e legislativos mobilizáveis para a preservação dos cursos d`água

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18226/22370021.v14.n2.05

Palavras-chave:

Área de Preservação Permanente (APP), flexibilização do regime protetivo da APP, intervenções em APP, litigância ambiental, responsabilidade ambiental

Resumo

A falha no regime de proteção das Áreas de Preservação Permanentes (APP) ao longo dos cursos d’água constitui um fator de risco ao equilíbrio ecológico ambiental, posto que essa área desempenha papel importante à preservação dos recursos hídricos, estabilidade geológica, à biodiversidade e ao bem-estar humano, tendo o status de um espaço especialmente protegido segundo o Código Florestal (art. 3º, II), por contribuir com valores de aspectos biocêntricos e antropocêntricos simultaneamente. Apesar desse grau de importância, existem pontos críticos no ordenamento jurídico brasileiro que não conferem melhor grau protetivo à APP, como a ampla possibilidade de sofrer intervenções e a aplicação inadequada das normas que tutelam o uso desse local. A partir desse contexto, busca-se identificar quais são as falhas do ordenamento jurídico que ameaçam o regime de proteção da APP ao longo dos cursos d'água, apontando as medidas que podem ser adotadas para afastar o risco de fragilização ambiental. Por meio da pesquisa bibliográfica, documental e exame da jurisprudência da Suprema Corte aplicável ao tema, será promovida uma análise crítica dos pontos da legislação que tornam mais frágeis o escopo protetivo da APP, amparando a pesquisa em um estudo de caso referente a intervenção nessa área, que decorre da atividade de ecoturismo em balneário de Bonito/MS, que foi objeto de autuação do Ibama. Ao final, serão apresentadas as alternativas para repelir o problema e fortalecer a proteção da APP, considerando as medidas de autocorreção, o que pode ser positivado pelo poder legislativo e provido por meio da litigância ambiental.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Hugo Leonardo Mota Ferreira, Universidade de Brasília

Mestre em Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília - UnB. Graduado em Direito e Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Analista Ambiental do Ibama com experiência em fiscalização, processo sancionador e legislação ambiental.

Carina Costa de Oliveira, Universidade de Brasília

Professora Associada da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília. Professora visitante na Paris 1 no ISJPS, França com bolsa da CAPES-Print; na University of Cambridge - Cambridge Centre for Environment, Energy and Natural Resource Governance (CEENRG), com bolsa da CAPES-Programas Estratégicos; e pela Law School - University of Adelaide, Austrália (2017). Possui doutorado em direito internacional na Universidade Paris II-Panthéon Assas (fev. 2012). Realizou seu mestrado em direito internacional no Centro Universitário de Brasília (2007) e a sua graduação em direito na Universidade Federal de Uberlândia (2005). Tem experiência na área de direito internacional e direito ambiental, com ênfase na gestão sustentável dos recursos naturais, na relação entre o direito internacional econômico, o direito do mar, o direito internacional privado e direito internacional ambiental. Articulações entre o direito internacional ambiental e o direito ambiental nacional, recursos naturais e a sustentabilidade são seus temas de pesquisa. Líder do Grupo de Pesquisa registrado no Cnpq em Direito, Recursos Naturais e Sustentabilidade (GERN-UnB).

Referências

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 25. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Brasília/DF, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 fev. 2023a.

BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938compilada.htm. Acesso em: 29 ago. 2023b.

BRASIL. Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7347orig.htm. Acesso em: 04 set. 2023c.

BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm. Acesso em: 05 set. 2023d.

BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20112014/2012/Lei/L12651compilado.ht. Acesso em: 10 fev. 2023e.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5312/TO. Plenário, 25/10/2018, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Dje 06/11/2018. Disponível em: <https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15339479339&ext=.pdf>. Acesso em: 13 fev. 2019a.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5675/MG. Plenário, 18/12/2021, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Dje 25/01/2022. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=758933784. Acesso em: 18 jan. 2024a.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4529/MT. Plenário, 22/11/2022, Rel. Min. Rosa Weber, Dje 01/12/2022. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=764658040. Acesso em: 18 jan. 2024b.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 473. In: Vade Mecum Acadêmico de Direito Rideel. 28. ed. São Paulo: Rideel, 2019b.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução nº 369, de 28 de março de 2006. Dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente – APP. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Seção 1, p. 150-151, 29 mar. 2006. Disponível em: http://www.ibama.gov.br/sophia/cnia/legislacao/MMA/RE0369-280306.PDF. Acesso em: 27 ago. 2023f.

BRASIL. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama. Processo 02014.000582/2014-12. Disponível em: https://sei.ibama.gov.br/sei/controlador.php?acao=procedimento_controlar&infra_sistema=100000100&infra_unidade_atual=110001055&infra_hash=292b11a105a8656f90014dc51c55d88ab2f5241b6dc0186a77628529a1691a01. Acesso em: 26 jun. 2022a.

BRASIL. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama. Decisão Revisional – Presidente (PASA) nº 11237763/2021-GN-II/DICON/CNPSA/SIAM. Disponível em: https://sei.ibama.gov.br/sei/controlador.php?acao=arvore_visualizar&acao_origem=procedimento_visualizar&id_procedimento=51107&infra_sistema=100000100&infra_unidade_atual=110001055&infra_hash=585e25a0aada03f1d2a38cc93c6cd38d73fc498e0c41e5aeab7d5fad16911d97. Acesso em: 26 jun. 2022b.

BRASIL. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama. Despacho nº 8067163/2020-SUPES-MS. Disponível em: https://sei.ibama.gov.br/sei/controlador.php?acao=arvore_visualizar&acao_origem=procedimento_visualizar&id_procedimento=51107&infra_sistema=100000100&infra_unidade_atual=110001055&infra_hash=585e25a0aada03f1d2a38cc93c6cd38d73fc498e0c41e5aeab7d5fad16911d97. Acesso em: 26 jun. 2022c.

BRASIL. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama. Nota n. 00059/2021/PROC/PFE-IBAMA-MS/PGF/AGU. Disponível em: https://sei.ibama.gov.br/sei/controlador.php?acao=arvore_visualizar&acao_origem=procedimento_visualizar&id_procedimento=51107&infra_sistema=100000100&infra_unidade_atual=110001055&infra_hash=585e25a0aada03f1d2a38cc93c6cd38d73fc498e0c41e5aeab7d5fad16911d97. Acesso em: 26 jun. 2022d.

CARVALHO, Délton Winter de; BARBOSA, Kelly de Souza. Litigância climática como estratégia jurisdicional ao aquecimento global antropogênico e mudanças climáticas. Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 16, n. 2, p. 54-72, 2019. Disponível em: https://www.publicacoes.uniceub.br/rdi/article/view/5949. Acesso em: 31 ago. 2023.

CASTRO, Martha Nascimento; CASTRO, Rodrigo Martinez; SOUZA, Caldeira de. A importância da mata ciliar no contexto da conservação do solo. Revista Eletrônica de Educação da Faculdade Araguaia, v. 4, n. 4, p. 230-241, 2013. Disponível em: https://sipe.uniaraguaia.edu.br/index.php/REVISTAUNIARAGUAIA/article/view/172. Acesso em: 13 ago. 2023.

COSTA, Victor Hugo Gurgel. Limites à intervenção em área de preservação permanente (APP) do Nordeste: um olhar jurídico sobre o horizonte eólico do Ceará e do Rio Grande do Norte. 2012. 49 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Departamento de Direito, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012.

FERRAÇO, André Augusto Giuriatto. O déficit democrático da regulação nos mecanismos de gestão compartilhada da Política Nacional de Recursos Hídricos brasileira. Revista da Faculdade Mineira de Direito, v. 23, p. 275-300, 2020. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/Direito/article/view/22338. Acesso em: 31 ago. 2023.

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, v. 3: responsabilidade civil. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

HARDIN, Garrett. The tragedy of the commons. Science, New Series, v. 162, n. 3859, p. 1243-1248, 1968. Disponível em: https://science.sciencemag.org/content/sci/162/3859/1243.full.pdf. Acesso em: 13 ago. 2023.

LAURINDO, Victor Hugo; GAIO, Daniel. As áreas de preservação permanente do Novo Código Florestal e o princípio da proibição de retrocesso ambiental. Retirado em, v. 26, p. 12, 2017.

MELLO, Sandra Soares de. A experiência francesa de intervenção em espaços urbanos de beira-rio: um paralelo para a reflexão sobre as áreas de preservação permanente (APP). Oculum Ensaios, n. 6, p. 18-32, 2006.

MONTEZUMA, Talita de Fátima P. F. Sentidos emergentes na defesa das águas face ao regime extrativista e suas contribuições para uma abordagem relacional e antimercantil dos comuns. 2021. Tese (Doutorado em Direito) – PPGD-UnB, Brasília, 2021. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/41285/1/2021_TalitadeF%c3%a1timaPereiraFurtadoMontezuma.pdf. Acesso em: 31 ago. 2023.

MORAES, Gabriela Garcia B. Lima; FERRAÇO, André Augusto Giuriatto. The need for legal improvement of civil liability for the guarantee of the human right to access to water as an essential public service in Brazil: an analysis based on the São Paulo water crisis (2014-2016). Revista Catalana de Dret Ambiental, v. 11, p. 01-43, 2020. Disponível em: https://raco.cat/index.php/rcda/article/download/378491/471864/. Acesso em: 04 set. 2023.

PEQUENO, PL de L. et al. Importância das matas ciliares. Embrapa Rondônia-Documentos (INFOTECA-E), 2002. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/703807. Acesso em: 13 ago. 2023.

PORTO, Marcelo Firpo de Souza. Complexidade, processos de vulnerabilização e justiça ambiental: um ensaio de epistemologia política. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 93, p. 31-58, 2011. Disponível em: https://journals.openedition.org/rccs/pdf/133. Acesso em: 13 ago. 2023.

RIBEIRO, Glaucus Vinicius Biasetto. A Origem Histórica do Conceito de Área de Preservação Permanente no Brasil. Revista Thema, v. 8, n. 1, 2011. Disponível em: https://periodicos.ifsul.edu.br/index.php/thema/article/view/67. Acesso em: 13 ago. 2023.

RODRIGUES, Marcelo Abelha. Aspectos da prova na ação civil pública ambiental. In: RODRIGUES, Marcelo Abelha. Ação civil pública e meio ambiente: tutela contra o ilícito, o risco e o dano ao equilíbrio. 4. ed. São Paulo: Foco, 2021.

STOPPA, Tatiana; VIOTTO, Thaís Boonem. Antropocentrismo x Biocentrismo: um embate importante. Revista Brasileira de Direito Animal, v. 9, n. 17, 2014.

WEDY, Gabriel. Desenvolvimento sustentável na era das mudanças climáticas: um direito fundamental. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

Downloads

Publicado

25-02-2025

Como Citar

Ferreira, H. L. M., & Oliveira, C. C. de. (2025). Áreas de preservação permanentes no Brasil e o caso do balneário de Bonito - MS: meios administrativos, judiciais e legislativos mobilizáveis para a preservação dos cursos d`água. Revista Direito Ambiental E Sociedade, 14(2), 1–26. https://doi.org/10.18226/22370021.v14.n2.05

Artigos Semelhantes

<< < 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.