A infância como "dispositivo": uma abordagem Foucaultiana para pensar a educação // DOI: 10.18226/21784612.v22.n2.04
Résumé
Este artigo investe na ideia de que a infância é um dispositivo histórico do poder. Tem-se como referência analítica Michel Foucault, que concebe a noção de dispositivo em suas discussões a respeito da sexualidade. A hipótese geradora é a de que, a partir do momento em que a criança se torna um dos grupos estratégicos do dispositivo da sexualidade (FOUCAULT, 1977), produz-se sobre ela um conjunto heterogêneo de regimes de verdades e práticas que configura uma maneira de ser e ter uma infância, influindo significativamente nas perspectivas pedagógicas modernas. Dialogando com Deleuze (1999), Agamben (2005) e Veyne (2009), considera-se que todo dispositivo possui: linhas de visibilidade e de enunciação que são, respectivamente, máquinas de “fazer ver” e de “fazer falar”; linhas de força, que sustentam os campos de visibilidade e os regimes de enunciabilidade; e linhas de subjetivação que são, segundo Deleuze (1999) a dimensão do “si próprio” e que configuram o sujeito infantil. Apresenta-se três grupos de práticas articuladas às estas características do dispositivo: as práticas pedagógicas, as práticas divisórias e identitárias de gênero e de sexualidade e as práticas médicas. Observa-se que, para Foucault, o dispositivo da sexualidade disciplina os corpos, regula e normatiza a população, regulamenta o prazer e os saberes sobre o sexo, e, além disso, ocupa-se, por meio desse regime sobre o sexo, da preservação da espécie humana. A infância como dispositivo, na perspectiva ora apresentada neste artigo, também regulamenta a criança, constituindo-a em “sujeito infantil”, estabelecendo uma pedagogia e uma ciência que compuseram o pensamento pedagógico moderno sobre e para infância, ocupando-se também da preservação e da manutenção dessa espécie outra, a criança.
Palavras-chave: Infância. Educação. Foucault. Dispositivo.
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