Uma breve reflexão sobre o direito à preguiça // A brief reflection on the right to laziness

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DOI:

https://doi.org/10.18226/21784612.v25.e020034

Resumo

Tendo por base os pensamentos de dois importantes intelectuais franceses do século XX, este trabalho pretende perguntar pelo lugar da preguiça em tempos em que todos são cobrados por sua alta performance. Foucault mostra, em diferentes momentos, que tanto do ponto de vista moral como em relação aos processos econômicos, a preguiça foi reprovada, vigiada, controlada. Vemos isso, por exemplo, em seu curso “A sociedade Punitiva” (1972-1973), que a preguiça clássica dos séculos XVII e XVIII, vista como vício indolente e antiprodutivo e combatida com força policial, passa, a partir do século XIX, para um tipo complexo de ilegalismo, que compromete a maximização da produção e do lucro e é contida com trabalho intenso e contínuo e com a vigilância moral sobre o trabalhador. Como se vê em Vigiar e punir (1975), é a sociedade disciplinar e vigilante, que, atuando sobre os corpos, deve eliminar todo tipo de preguiça, a fim de que se possa extrair deles a maior utilidade possível. Já no curso “Nascimento da biopolítica” (1978-1979), ele nos ajuda a perceber que o modelo neoliberal deve banir a preguiça, na medida em que o que se busca, na economia de mercado, é a máxima eficiência. Concomitantemente aos cursos de Foucault, dedicados a questões do liberalismo e do neoliberalismo, Roland Barthes, numa entrevista intitulada “Ousemos ser preguiçosos”, de 16 de dezembro de 1979 ao jornal Le Monde, nos provoca a pensar que houve, no Ocidente, a perda da “instituição preguiça” em vista, principalmente, de certa obrigação de diversificação do tempo. Por isso mesmo, para nós, torna-se intolerável o “não fazer nada”; é preciso, a todo momento, inserir algo à vida.

Palavras-chave: Preguiça. Tempo. Michel Foucault. Roland Barthes.

 

Biografia do Autor

Fabiano Incerti, Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Possui licenciatura em Filosofia e História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (1998), mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2007) e doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2013). Atualmente é diretor do Instituto Ciência e Fé e Professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Tem experiência na área de Filosofia, atuando principalmente nos seguintes temas e autores: filosofia moderna e contemporânea, diagnósticos críticos da contemporaneidade, tragédia grega, diálogo ciência, cultura e fé, mística e espiritualidade; Michel Foucault, Pierre Hadot, Roland Barthes. 

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Publicado

2020-12-07

Como Citar

Incerti, F. (2020). Uma breve reflexão sobre o direito à preguiça // A brief reflection on the right to laziness. CONJECTURA: Filosofia E educação, 25, e020034. https://doi.org/10.18226/21784612.v25.e020034

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Artigos