V. 15 N. 3

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Apresentação

"As coisas da educação discutem-se, quase sempre,

a partir das mesmas dicotomias, das mesmas oposições, dos mesmos

argumentos. Anos e anos a fio. Banalidades.

Palavras gastas. Irritantemente óbvias, mas sempre repetidas como se

fossem novidade. Uns anunciam o paraíso,

outros o caos - a educação das novas gerações

é sempre pior do que a nossa. Será?"

(NÓVOA, Antônio)

 

 

A epígrafe de abertura, escrita por Nóvoa, é uma provocação para pesquisadores e todos os envolvidos com a educação do presente. Escrevemos, pesquisamos, discutimos e trazemos a lume, nos diferentes contextos, as questões educativas do hoje. A partir de que pressupostos? Com quais embasamentos? Com que referências e subsídios? E, nesse direcionamento, outra questão é pertinente: Como a História da Educação pode nos subsidiar reflexões mais relevantes sobre esses cenários contemporâneos? Pensando-se nas conexões entre os desafios da educação contemporânea e as contribuições das pesquisas produzidas na área de História da Educação, é com alegria que apresentamos a Revista Conjectura em seu último número de 2010 tendo como foco temático a(s) "História(s) da Educação". Publicamos 11 artigos que trazem diferentes abordagens e temas para pensarmos a educação, historicamente, em suas múltiplas possibilidades. A leitura dos processos educativos humanos, em diferentes tempos, nos permite compreender as discussões produzidas no presente sobre a educação.

Considerando as interfaces com o político, o social, o econômico e o cultural para pensar a educação, as pesquisas em História da Educação têm propiciado o entendimento da pluralidade de práticas educativas. Também a compreensão de quem são os sujeitos escolares envolvidos, quais foram os projetos, leis e regulamentos discutidos e pouco efetivados, os tempos e espaços escolares, a educação formal e a não formal, a dinâmica dos processos que educam, socializam e constituem os homens ao longo do tempo, numa diversidade de enfoques teóricos e metodológicos.

O primeiro artigo intitulado "Educação Infantil e ensino intuitivo: a contribuição de Marie Pape-Carpantier (1815-1878)" de autoria de Maria Helena Camara Bastos reconstrói a trajetória da educadora Marie Pape- Carpantier, estabelecendo as relações com a adoção do método intuitivo para a educação dos sentidos - lições de coisas -, na proposta pedagógica destinada à Educação Infantil, na criação de materiais didáticos para auxiliar no desenvolvimento do método natural e na orientação de modelos de mobílias para as escolas.

O segundo texto de Suad Aparecida Ribeiro de Oliveira também tem como foco a infância. Em "A história do primeiro parque infantil municipal de Sorocaba: o contexto histórico e as circunstâncias específicas da criação e da instalação da escola", a autora apresenta um breve histórico das primeiras instituições de atendimento infantil no Brasil e na cidade de São Paulo, para, posteriormente, escrever sobre o primeiro parque infantil inaugurado em setembro de 1954, em Sorocaba. O trabalho feminino, a atuação de professores como José Carlos de Almeida e o atendimento de pré-escolares por meio da expansão das políticas públicas ficam evidenciados no texto.

O terceiro artigo, "Civismo e militarização da infância: uma abordagem baseada no jornal O Rebate (Pelotas/RS, 1914-1915)", de autoria de Maria Augusta Martiarena de Oliveira e Giana Lange do Amaral, privilegiando como fonte documental o jornal O Rebate, periódico de oposição ao Partido Republicano Rio-Grandense, apresenta uma análise sobre as festas cívicas e a educação cívica no período da Primeira República.

O quarto artigo, "ELA: uma contribuição da cultura escolar para a formação inicial", de autoria de Leia Adriana da Silva Santiago produz, na perspectiva da história das disciplinas escolares, a análise do processo de constituição da disciplina de Estudos Latino-Americanos no âmbito do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina.

O quinto texto, dos pesquisadores Muleka Mwewa, Ana Inés Renta e Abudo Machud, intitulado "Alguns aspectos sobre a educação de adultos na Europa", privilegia a investigação de alguns aspectos da estrutura organizativa e dos mecanismos teórico-metodológicos para a gestão da formação de adultos na Europa.

O sexto texto, "Do ambiente doméstico às salas de aula: novos espaços, velhas representações" traz a lume a pesquisa de Milena Aragão e Lúcio Kreutz que enfocam as representações construídas acerca da mulher professora no processo de feminização do magistério e suas possíveis repercussões nas práticas pedagógicas.

O sétimo artigo, de autoria de Roseli Maria Bergozza e Terciane Ângela Luchese, "Escola Complementar: primeira escola pública para formação de professores primários na cidade de Caxias do Sul - 1930-1961", privilegia esse período, estudando a Escola Complementar na perspectiva da cultura escolar. São evidenciados, no texto, os temas de nacionalização do ensino, a feminização do magistério e os discursos médicos que atravessaram as práticas daquela instituição de ensino.

O oitavo texto, "A performance do professor coordenador na escola burguesa", dos pesquisadores Marcia Natália Motta Mello e José Luis Almeida discute, a partir da escola pública paulista, a atividade do professor coordenador em interface com as expectativas do ideário neoliberal.

O nono artigo intitulado "A educação a distância na sociedade da informação: uma análise histórica da Educação Superior a Distância na formação de gestores públicos no cenário brasileiro", da autora Rejane Esther Vieira versa sobre a educação a distância na sociedade da informação e destaca o novo enfoque da Educação Superior a Distância voltada à formação de gestores públicos no cenário brasileiro.

O décimo artigo, "Caminhares: fragmentos sobre oficinas de escrita e interrogações sobre os ensinares e os aprenderes", de Mariana De Bastiani Lange, compartilha fragmentos da experiência com Oficina de Escrita, preocupando-se com questões de endereçamento implicadas nos processos de escrita e aprendizagem.

O último artigo, "Ecos de um cotidiano juvenil: as escritas de si na privação da liberdade", de autoria das pesquisadoras Nilda Stecanela e Carmem Craidy, destaca, a partir de narrativas escritas por jovens em privação de liberdade, a temática do cotidiano juvenil. Aspectos como liberdade, situação juvenil e realidades vividas nos espaços de restrição de liberdade são enfocados.

No fim são publicadas quatro resenhas que privilegiam questões educacionais em diferentes vieses. A primeira, de Claudia Luci Scussel, "Professoras primárias e seus papéis no palco da vida" enfoca o livro de Beatriz Daudt Fischer, Professoras: histórias e percursos de um passado presente. A segunda resenha elaborada por Andreza Marques de Castro Leão traz a abordagem da obra do escritor português José Saramago, A Caverna. A terceira, de Andréia Bonho Borba, enfoca a obra de Walter Omar Kohan intitulada Filosofia: o paradoxo de aprender e ensinar. Por fim, Eli Narciso da Silva Torres traz apontamentos acerca da obra coletiva O legado educacional do século XX no Brasil.
Do conjunto de textos publicados nesta edição evidencia-se a pluralidadede perspectivas, temas, documentos e possibilidades investigativas que têm sido pesquisados pela comunidade de pesquisadores de História da Educação. Desejamos que as pesquisas publicadas nesta edição possibilitem discussões, viabilizem novas investigações e frutifiquem em nossos espaços de estudo e trabalho.

Boa leitura!

Terciane Ângela Luchese

Organizadora

Pubblicato: 2010-12-23

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