Transtorno opositor desafiador: relações de poder na sociedade governamentalizadora

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.18226/21784612.v26.e021037

Resumen

O diagnóstico do Transtorno Opositor Desafiador em crianças e jovens, é abordado pela saúde como um transtorno que apresenta um compilado de características que podem, inclusive, tornar o transtorno facilmente camuflado ou confundido com outros, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ou Transtorno de Conduta. Para além das discussões sobre um viés clínico desse transtorno, é necessário desconstruir algumas normativas e olhar para essa diferença por outro ponto de vista, possibilitando, com isso, que emerjam reflexões a partir de uma concepção social-filosófica. Sendo assim, o presente artigo busca problematizar as relações entre o discurso científico médico e o campo da filosofia sobre o transtorno em estudo, no intuito de discuti-las através de aportes propostos por Michael Foucault no campo da governamentalidade, sendo essa uma ação exteriorizadora de manifestação do poder condutor de sueitos. Como resultado, a problematização teórica apontou que é fundamental analisar e acompanhar o comportamento de crianças com suspeita de terem esse transtorno em diferentes contextos, não considerando somente as orientações apresentadas em manuais de critérios e características médicas. Ainda como resultado, ao relacionar o discurso clínico aos conceitos da filosofia da diferença, pode-se observar que a sociedade julga/considera as crianças com Transtorno Opositor Desafiador, como seres que realizam desvios de regras, por meio de manifestações de contracondutas ou de resistências às regras advindas de uma sociedade normalizadora nas diversas instituições espalhadas pelas malharias sociais, sejam essas, a escolar ou a familiar. Em suma, a sociedade precisa construir maneiras distintas e desconstruídas de subjetivações de crianças e jovens para que se formem futuros sujeitos praticantes da liberdade.

Palavras-chave: Transtorno Opositor Desafiador. Governamentalidade. Relações de poder.

Biografía del autor/a

Vanessa Regina de Oliveira Martins, Universidade Federal de São Carlos

Graduada em Licenciatura em Pedagogia (PUCCAMP). Mestra e Doutora em Educação (UNICAMP). Professora adjunta ao Departamento de Psicologia e Docente do curso de Bacharelado em Tradução e Interpretação de Libras/Língua Portuguesa e do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial (UFSCar).

Bianca Salles Conceição, Universidade Federal de São Carlos

Graduada em Licenciatura em Pedagogia (UFSCar). Mestra em Educação Especial (UFSCar). Graduanda no curso de Bacharelado em Tradução e Interpretação de Libras/Língua Portuguesa (UFSCar). Doutorando em Educação Especial (UFSCar).

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Publicado

2021-10-19

Cómo citar

Martins, V. R. de O., Morais, M. P., & Conceição, B. S. (2021). Transtorno opositor desafiador: relações de poder na sociedade governamentalizadora. CONJECTURA: Filosofia E educação, 26, e021037. https://doi.org/10.18226/21784612.v26.e021037

Número

Sección

Artigos