TEMPO, GOVERNAMENTALIDADE E AUTORRESPONSABILIZAÇÃO NA DOCÊNCIA

Autores

  • Luciana Aparecida Silva de Azeredo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) http://orcid.org/0000-0003-3709-2597
  • Marcia Aparecida Amador Mascia Universidade São Francisco
  • Carlos Roberto da Silveira Universidade São Francisco

Palavras-chave:

Docência, Governamentalidade, Neoliberalismo, Cuidado de si, Contraconduta, Tempo.

Resumo

No contexto neoliberal, no qual imperam a cultura da auditoria e da meritocracia, a lógica do empreender-se a si mesmo e a visão de educação como mercadoria, convivemos com o mal-estar dentro e fora da docência. Nesse panorama, este artigo objetiva problematizar a racionalidade neoliberal vigente dentro e fora das salas de aula. Trata-se de uma análise discursiva de depoimentos de três professores de ensino superior sobre o cuidado (de si), a partir de ferramentas teórico-analíticas de Foucault, com o intuito de apontar em que medida os efeitos de sentido da responsabilização do sujeito por suas escolhas emergem em seus depoimentos. A análise remete-nos à presença dos modos de objetivação, por exemplo, às técnicas (pós-)modernas de gestão do tempo, qualidade muito apreciada no contexto neoliberal, na incessante busca da produtividade, da eficácia/eficiência e do empreendedorismo de si. Porém, a análise também sinalizou o desejo de cuidar(-se) mais e melhor, sendo a boa gestão do tempo vista pelos professores como uma das formas de realizá-lo. Embora tais estratégias estejam permeadas de/por técnicas neoliberais de governamentalidade, visando, de diversas maneiras, a conduzir nossas condutas, não objetivamos criticá-las, mas apenas descortinar de que maneira o uso de técnicas de gestão do tempo, paradoxalmente necessárias para (con/sobre)viver no mundo contemporâneo, nos conduzem de forma sub-reptícia.  Nesse contexto, o cuidado de si, como entendido por Michel Foucault, no sentido de invenção de novas formas de vida poderia emergir como possibilidade de produzir contracondutas, apostando na relação consigo como uma alternativa, uma forma de resistência diante do poder, cuidado este, por vezes, sufocado pela competitividade generalizada que nos governa.

Biografia do Autor

Luciana Aparecida Silva de Azeredo, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG)

Pós-doutoramento pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens (POSLING) do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, instituição na qual é servidora efetiva, atuando como professora e pesquisadora no Departamento de Linguagem e Tecnologia (DELTEC) e no Programa de Pós-Graduação em Educação Tecnológica (PPGET).  Doutora em Educação e Mestre em Linguística Aplicada. Foi pesquisadora visitante na University of Sheffield, na Inglaterra. Realiza pesquisas a partir de ferramentas teórico-metodológicas pêcheutianas e foucaultianas em sua interface com a Educação e coordena o Grupo de Estudos Discurso e Subjetividade na Educação Profissional e Tecnológica (GEDS-EPT).

 

Marcia Aparecida Amador Mascia, Universidade São Francisco

Pós-Doutoramento pela Universidade de Wisconsin-Madison, no departamento de Curriculum and Instruction, com bolsa FAPESP. Doutora em Linguística Aplicada pela UNICAMP. Professora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, na linha de Educação, Sociedade e Processos Formativos, da Universidade São Francisco. Atua na área de Educação, Linguística Aplicada, Linguagem e Discurso. Líder do Grupo de Pesquisa Estudos Foucaultianos e Educação, certificado pelo CNPq. Editora da série de livros (Post)Critical Global Studies, da editora Peter Lang. Bolsa PQ 2. CNPq. 2020-2023.

Carlos Roberto da Silveira, Universidade São Francisco

Pós-Doutor pela Universidade São Francisco (USF-SP), através do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu (CAPES) em Educação, em 2015. Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP - CAPES), em 2010. Mestre em Filosofia (concentração em Ética) pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMP), em 2003. Pós-graduado Lato Sensu em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS-MG), em 1999. Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade de Administração Informática Santa Rita do Sapucaí (FAI-MG), em 1997. Trabalhou na função de Professor na FAI-MG, na UNIVÁS-MG, no UNIS-MG, na Escola Técnica de Eletrônica de Santa Rita do Sapucaí (ETE-MG), na Faculdade Católica de Pouso Alegre (FACAPA-MG), nos Cursos de Graduação e Pós-graduação Lato Sensu em Filosofia e no Curso de Graduação na Faculdade de Enfermagem Wenceslau Braz (FWB-MG), em Itajubá. Trabalhou como Membro do Comitê de Ética e Pesquisa na Faculdade de Ciências da Saúde - (UNIVÁS) e na Faculdade de Enfermagem Wenceslau Braz (FWB-MG). Participou como Coordenador e Pesquisador Convidado na confecção do Projeto Piloto sobre o Programa de Educação e Responsabilização para Homens Autores de Violência Doméstica contra a Mulher na Comarca de Pouso Alegre-MG, Período (2012-2013). Devido ao Projeto Piloto citado acima, trabalha com o Enfrentamento à Violência Doméstica, o que faz parte do processo de Educação/Aprendizagem Não-Formal e Formal, em conformidade com as Políticas Públicas nas esferas da Justiça, Segurança, Cidadania e Direitos Humanos, em escolas e comunidades, isso também, através de pesquisas de Iniciação Científica. Tem desenvolvido pesquisas voltadas para Filosofia da Educação, Fundamentos da Educação e Tópicos Específicos da Educação, com ênfase na Filosofia Clássica Ocidental (especialmente Platão), Moderna, Contemporânea, juntamente com as Teorias Críticas Latino-Americanas e Epistemologias do Sul, Personalismo, dentre outras, na promoção de debates e ações para a área da Educação, o que envolve questões sobre ética, bioética, constituição do sujeito contemporâneo, decolonialidade, tecnologias, dentre outros. Trabalha na função de professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação e de Graduação, com atuação na linha de pesquisa Educação, Linguagens e Processos Interativos, da Universidade São Francisco (USF-Itatiba-SP). Atua como Editor da Revista Horizontes em Educação USF. Atua como membro do Comitê Institucional de Iniciação Científica, Iniciação Tecnológica e de Extensão da Universidade São Francisco, USF. Membro da Comissão Própria de Avaliação-USF. Participa como Líder do Grupo de Pesquisa sobre Educação e Teorias Críticas Latino-Americanas (GPETECLA), do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação USF (Certificado pelo CNPQ). Participa como Vice-líder do Grupo de Pesquisa sobre Estudos Foucaultianos na Educação (GPEFE), do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação USF (Certificado pelo CNPQ). Atua como membro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED). Participa do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Educação, Linguagem e Práticas Culturais (PHALA - UNICAMP).

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Publicado

2023-11-24

Como Citar

Silva de Azeredo, L. A., Amador Mascia, M. A., & da Silveira, C. R. (2023). TEMPO, GOVERNAMENTALIDADE E AUTORRESPONSABILIZAÇÃO NA DOCÊNCIA. CONJECTURA: Filosofia E educação, 28, e023017. Recuperado de https://sou.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/view/11311

Edição

Seção

Artigos