Colonialismo de carbono

estudo dos créditos de carbono em áreas indígenas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18226/22370021.v15.n2.01

Palavras-chave:

redução das emissões, desmatamento, degradação florestal, projetos de carbono, terras indígenas

Resumo

Diante do agravamento das mudanças climáticas, sobretudo decorrentes do aquecimento global, intensificam-se estratégias globais de descarbonização da atmosfera. É nesse contexto que surgem os projetos de créditos de carbono vinculados ao mecanismo REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal). Em que pese essa iniciativa seja promovida como uma medida de mitigação climática, considerada uma solução sustentável, diversas críticas têm sido dirigidas à forma como elas impactam populações tradicionais, especialmente as comunidades indígenas. A enorme área de floresta do Brasil, tem sido um grande alvo do mercado de créditos de carbono, cujos projetos são largamente implementados no país. Esse fator atrai dezenas de investidores estrangeiros interessados na mercantilização da natureza que, muitas vezes, ocorre em detrimento dos direitos das populações tradicionais e da integridade das terras que lhes pertencem. Nesse contexto, esta pesquisa tem como objetivo analisar em que medida o mercado de créditos de carbono impacta os modos de vida das comunidades indígenas no Brasil, à luz do conceito de colonialismo de carbono. A relevância do estudo reside na necessidade de compreender os desafios socioambientais, culturais e territoriais enfrentados por essas comunidades diante da crescente mercantilização da natureza no país, especificamente na área denominada de Amazônia Legal. A metodologia adotada inclui análise documental e revisão bibliográfica pelo método hipotético-dedutivo. Como resultados e conclusões, percebe-se que os projetos de créditos de carbono, em especial os vinculados ao mecanismo REDD+, representam uma nova forma de dominação sobre as comunidades indígenas no Brasil, sob a aparência de soluções sustentáveis para a crise climática. Embora haja a recente regulamentação do mercado de carbono, a Lei nº 15.042/24,  esta ainda carece de regulamentação que garanta, de forma clara e efetiva, a proteção dos direitos coletivos dos povos indígenas e o respeito à sua autotutela.

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Biografia do Autor

Talissa Tuccolo Reato, Universidade de Caxias do Sul

Pós-Doutora em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, Doutora em Direito pela Universidade de Caxias do Sul - UCS, Mestra em Direito pela Universidade de Passo Fundo – UPF e Graduada em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI. Professora do Curso de Direito e do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Caxias do Sul – UCS. Advogada.

Gabriela Priscila da Silva, Universidade de Caxias do Sul

Graduanda em Direito pela Universidade de Caxias do Sul – UCS. Bolsista de Iniciação Científica (FAPERGS).

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Publicado

11-10-2025

Como Citar

Reato, T. T., & da Silva, G. P. (2025). Colonialismo de carbono: estudo dos créditos de carbono em áreas indígenas. Revista Direito Ambiental E Sociedade, 15(2), 1–32. https://doi.org/10.18226/22370021.v15.n2.01

Edição

Seção

Artigos Pesquisadores do PPGDir - UCS

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