Sobre a escuta como acolhimento do outro: fragmentos de uma poética da escuta como caminho de formação humana // DOI: 10.18226/21784612.v22.n3.9
Resumen
Em meio ao tempo e ao ritmo estabelecidos pela dinâmica social da atualidade, caracterizada por uma paisagem sonora que conduz ao desapego e ao distanciamento afetivo nas relações, exaurindo os próprios sentidos da vida humana, este trabalho pretende retomar o sentido ético da escuta como condição primordial de acesso à verdade, uma escuta que, para além do simples ouvir, permita espreitar os sons que constituem a singularidade dos sujeitos e do mundo e dão a tônica da sua existência. Estabelece relações entre o Logos segundo Heráclito, música encantatória no seu sentido original que, por ser linguagem, comunica e diz algo, e a mousiké grega cujo poder de en-cantamento traz aos sujeitos a verdade como voz que orienta a vida. Destaca as artes da existência apontadas por Foucault na epiméleia heautou associada a melos e melodia, aquilo que canta e encanta desde algum lugar do sujeito e o apela a se interessar por determinada pessoa, objeto ou acontecimento. Dessa forma, a verdade do sujeito é sonora, manifestase como linguagem, como canto que se dá, se doa, na condição de escuta dos sujeitos dispostos, na sua abertura, a ouvi-la. À luz do pensamento de Sloterdijk (apud ROCCA, 2006, 2007, 2008), identifica as esferas sonoras como o domínio onde as palavras primigênias, fundadoras do ser, ressoam revelando sua origem e essência. Coloca a música como uma arte de viver que atua como elemento reorganizador do conhecimento que construímos sobre o mundo e sobre nós mesmos. Focaliza as ressonâncias formativas do gesto de escutar e silenciar como parte de uma disposição [Stimmung] vital para lidar com conflitos e tensões de nossa época.
Palavras-chave: Logos. Música. Escuta. Acolhimento do outro.
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