Trajetórias biográficas de mulheres feministas atuantes em movimentos sociais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18226/21784612.v25.dossie.17

Resumo

O artigo busca refletir sobre a trajetória de mulheres feministas na cidade de Pelotas – RS, a partir de suas narrativas que, de certa forma, foram precursoras, visibilizando suas experiências no ativismo político. Entendemos que todo movimento social atua na formação humana, portanto, é um ato educativo. Utilizamos o referencial feminista descolonial, como perspectiva vinculada à resistência do sistema capitalista mundial-globalizado. Buscamos nossas bases teóricas especialmente nas autoras Heleieth Saffioti (2004), Ochy Curiel (2007), Marcela Lagarde y de los Ríos (2015), Patricia Hill Collins (2017) e bell hooks (2019), para discutir sobre a condição histórica das mulheres, em relação à classe social, ao gênero, à raça, à divisão sexual do trabalho e ao empoderamento social. A metodologia utilizada é de cunho qualitativo e, como fonte de dados, se compõe de narrativas biográficas. O conjunto de narrativas que apresentamos nesta escrita foi constituído por entrevistas narrativas individuais, com quatro mulheres que militaram politicamente nos anos 1980 e que, atualmente, têm mais de 60 anos de idade. Essas mulheres participaram de espaços institucionalizados de militância, como o Conselho Municipal da Mulher, o Grupo Autônomo de Mulheres Pelotas (GAMP), União Brasileira de Mulheres (UBM) ou sindicatos. Em recente pesquisa sobre trabalho na cidade de Pelotas, foi constatada uma grande situação de vulnerabilidade no trabalho, onde totalizaram mais de 62 mil pessoas em trabalho precário ou informal. Nesse contexto, as dificuldades de uma cidade socialmente desigual levam à criação de grupos de enfrentamento, e é nesse espaço social que as mulheres deste estudo atuam. No procedimento de análise destacam-se as categorias interseccionalidade, divisão sexual do trabalho e empoderamento social. Como resultados, ressaltamos a importância das epistemologias feministas descoloniais para aprender e conhecer a história de mulheres que colaboraram na construção do movimento feminista em prol dos direitos das mulheres. Também destacamos o empoderamento social das colaboradoras da pesquisa, pois são mulheres que se relacionam cotidianamente com a cidade, trabalham, dialogam com outras mulheres em situação de vulnerabilidade e têm consciência crítica que, através da Educação transformadora e feminista, possam colaborar para uma equidade de gênero.

  

Biografia do Autor

Márcia Alves Silva, Universidade Federal de Pelotas - UFPEL

Professora da Faculdade de Educação – FAE/UFPEL e do Programa de Pós-graduação em Educação – PPGE/UFPEL, Universidade Federal de Pelotas – UFPel; Líder  do Grupo de Pesquisa D’Generus – Núcleo de Estudos Feministas e de Gênero do CNPq.


   

Adriana Lessa Cardoso, Universidade Federal de Pelotas - UFPEL

Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande; Doutoranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal de Pelotas – UFPEL; Bolsista CAPES; Pesquisadora  do Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos Feministas e de Gênero - D’Generus; ativista do coletivo União Brasileira de Mulheres - UBM.

  

Referências

BERTH, Joice. O que é empoderamento?. Belo Horizonte: Letramento, 2018.

CURIEL, Ochy. Crítica pós-colonial desde las praticas politicas del feminismo antirracista. Revista Nómadas, n. 26, Abril, 2007, p. 92 - 101.

CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 171, jan. 2002. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2002000100011>. Acesso em: 12 ago. 2019.

EVERARDO, Maribel Ríos. Metodología de las ciências sociales y perspectiva de género. IN: GRAF, Norma. (et al). Investigación Feminista: epistemologías, metodología y representaciones sociales. México: UNAM, 2012.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017.

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3 ed. São Paulo: Editora Moraes, 1980.

HOOKS, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. 3ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2019.

LAGARDE Y DE LOS RÍOS, Marcela. Los Cautiveiros de las mujeres: madresposas, monjas, putas, presas y locas. México: Siglo XXI Editores, 2 ED., 2015.

McDOWELL, Linda. Género, identidad y lugar: un estudio de las geografías feministas. Madri: Ediciones Cátedra, Universitat de València e Instituto de La Mujer, 1999.

MOTA-NETO, João Colares. Paulo Freire e Orlando Fals Borda na genealogia da pedagogia decolonial latino-americana. Revista FOLIOS, 2018, p. 3-13.

PINTO, Céli Regina Jardim. Movimentos sociais: espaços privilegiados da mulher enquanto sujeito político. In: Costa, Albertina de O.; BRUSCHINI, Cristina (Orgs.). Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 1992. p. 127-150.

QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. Buenos Aires: Clacso. 2005, p. 117 - 142.

QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder e classificação social. In: SANTOS, Boaventura de Sousa, MENESES, Maria Paula (org). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez Editora, 2010, p. 84 - 130.

ROSENTHAL, Gabriele. Pesquisa social interpretativa: uma introdução. POA/RS EDIPUCRS, 2014.

SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado, violência. São Paul: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.

WALSH, Catherine. OLIVEIRA, Luiz Fernandes. CANDAU, Vera Maria. Colonialidade e pedagogia decolonial: Para pensar uma educação outra. Arquivos de Políticas educacionais, 2018. Acesso: http://dx.doi.org/10.14507/epaa.26.3874

Downloads

Publicado

2020-04-15

Como Citar

Silva, M. A., & Cardoso, A. L. (2020). Trajetórias biográficas de mulheres feministas atuantes em movimentos sociais. CONJECTURA: Filosofia E educação, 25, 294–307. https://doi.org/10.18226/21784612.v25.dossie.17