Moralidade, biopolítica e educação em tempos de pós-verdade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18226/21784612.v25.dossie.2

Resumo

O artigo pretende abordar o tema da moralidade no campo da Educação a par tir da transição da discussão de Freud a Adorno (e Horkheimer), potencializada pela compreensão da biopolítica de Foucault e Agamben. O objetivo é fazer a crítica ao ato de discriminar e direcionar o destino das verbas públicas não para a Educação, e sim em prol de valores do mercado. O tema da moralidade está sendo utilizado largamente como expediente de formação de massas com características fascistas no Brasil atual, o que demanda um esforço hermenêutico para repensar suas premissas filosóficas e psicanalíticas. Não se trata somente de investigar o papel positivo que desempenham os agrupamentos que trabalham em prol de causas elevadas. Mais do que isso, interessa compreender como eles se unem em torno de pautas conservadoras e que se utilizam do escudo da moral, em tempos de pós-verdade, como forma de distração dos reais problemas enfrentados pela vida pública brasileira. Com isso, é possível mergulhar na psique das massas, percebendo que a falta de distanciamento ou identificação entre o eu e o ideal do eu é um dos principais motivos À emergência de uma biopolítica da moralidade que leva ao comportamento massificado do indivíduo. Quando renuncia ao seu ideal do eu para adotar atitudes e comportamentos padronizados, acaba por abolir a sua instância moral e passa a operar sem apoio no narcisismo. Deixa, assim, de aspirar à sua própria autoafirmação, focando todos os seus esforços no ideal do coletivo, sem perceber que paga o preço da renúncia a si mesmo que leva à heteronomia, cujas normas são prescritas pela sociedade.  

Biografia do Autor

Amarildo Luiz Trevisan, Universidade Federal de Santa Maria

Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e pesquisador PQ - 1D/CNPq. Graduado em Filosofia (FAFINC), mestre em Filosofia (UFSM), Doutor em Educação (UFRGS) e Pós-Doutor em Humanidades pela Universidade Carlos III (UC3M), da Comunidade de Madri. Publicou ou organizou vários livros e artigos sobre Filosofia e Educação, com destaque: Filosofia e Educação: mímesis e razão comunicativa (Unijuí, 2000); Pedagogia das Imagens Culturais: da formação cultural à formação da opinião pública (Unijuí, 2002); Terapia de Atlas: pedagogia e formação docente na pós-modernidade (Edunisc, 2004); Reconhecimento do Outro: teorias filosóficas e formação docente (Mercado de Letras, 2014). É coordenador do Grupo de Pesquisa Formação Cultural, Hermenêutica e Educação e pesquisador do Grupo Racionalidade e Formação. Coordenou o Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/UFSM (2012 - 2013). Atua na área de Filosofia da Educação em suas interfaces com a formação de professores e a pesquisa educacional na perspectiva da hermenêutica e da teoria crítica. Interessa-se pelos seguintes temas relacionados à Filosofia e à Educação: imagem, reconhecimento, formação, catástrofe e violência. Email: trevisanamarildo@gmail.com 

  

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Publicado

2020-04-15

Como Citar

Trevisan, A. L. (2020). Moralidade, biopolítica e educação em tempos de pós-verdade. CONJECTURA: Filosofia E educação, 25, 17–33. https://doi.org/10.18226/21784612.v25.dossie.2