Vigotski e Freire: tecendo caminhos para uma educação inclusiva e emancipatória das pessoas com deficiência

Autores

Palavras-chave:

Educação Libertadora. Psicologia Histórico-Cultural. Educação Inclusiva. Pessoas com deficiência.

Resumo

O texto consiste em um diálogo entre a Psicologia histórico-cultural de Lev Vigotski e a Pedagogia de Paulo Freire no que se refere às possibilidades da educação inclusiva das pessoas com deficiência, tendo em vista que as duas teorias caminham em uma direção semelhante, a partir de uma mesma base materialista histórico- dialética. Vigotski entende a deficiência como um fenômeno construído e mediado socialmente. A forma como a pessoa encara as suas limitações está condicionada ao meio social, que está construído em função de um padrão de normalidade, o qual comumente cria barreiras físicas, educacionais e atitudinais para a participação social da pessoa com deficiência. Assim, não é o biológico que determina a deficiência de uma pessoa, mas as mediações que ela encontra no contexto social. Freire defende uma pedagogia para a libertação dos oprimidos, o que requer que a prática educativa seja possibilitadora da realização da condição ontológica de “ser mais” de todos os seres humanos. Entendemos que as pessoas com deficiência inseridas em um meio social que enxerga a deficiência como defeito e como limitadora do sujeito se inserem na categoria freireana de oprimidos. Uma educação libertadora implica em ouvir a voz de todos, procurar a pronúncia do mundo de todos, sem homogeneizações, sem padrões de normalidade, vendo a todas as pessoas como sujeitos históricos e trabalhando para sua conscientização. Os legados de Vigotski e de Freire podem nos ajudar a construir uma educação mais inclusiva de fato, sobretudo pela sua aposta no ser humano como ser potente, e na sua capacidade de superação, apesar das condições adversas conferidas pela deficiência no meio social.

Biografia do Autor

Zélia Medeiros Silveira, Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC

Possui graduação em Pedagogia (1986), com habilitação em Supervisão Escolar, pela Fundação Educacional de Criciúma - FUCRI (1988). Mestrado em Educação pela Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC (2009). Doutoranda em Educação pela Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC. Bolsista do Programa de Bolsas Universitárias de Santa Catarina – UNIEDU. Atualmente é professora integral da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC. Coordenadora do SAMA (Setor Multifuncional de Aprendizagem) da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC. É integrante do Grupo de Pesquisa Descolonização, Educação e Processos Subjetivos. Desenvolve projetos na área da educação, com ênfase nas seguintes temáticas: Inclusão, Deficiência, processo ensino-aprendizagem, patologização.

Janine Moreira, Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (1990), mestrado em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (1994) e doutorado em Educação realizado na Universidade de Córdoba, na Espanha (2000), e convalidado pela Universidade Federal de Santa Catarina. Realizou estágio pós-doutoral na Faculdade de Educação na Universidade de Murcia, na Espanha (2016). É professora do curso de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) de Criciúma. É líder do Grupo de Pesquisa Descolonização, Educação e Processos Subjetivos. Desenvolve projetos na área de educação em saúde, educação permanente em saúde, políticas públicas de saúde em sua interface com processos educativos e patologização e processos de subjetivação. Teoricamente, trabalha com o existencialismo, com a educação popular e com os estudos decoloniais. 

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Publicado

2023-06-02

Como Citar

Silveira, Z. M., & Moreira, J. (2023). Vigotski e Freire: tecendo caminhos para uma educação inclusiva e emancipatória das pessoas com deficiência. CONJECTURA: Filosofia E educação, 27, e022053. Recuperado de https://sou.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/view/10925

Edição

Seção

Dossiê: EDUCAÇÃO POPULAR NA AMÉRICA LATINA: HISTÓRIA E ATUALIDADE