v. 11 n. 22 (2012): Comunicação e Cultura

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APRESENTAÇÃO/PRESENTATION

A edição que chega aos nossos leitores reúne um conjunto de nove artigos passando pelo cinema; pela transformação do ouvinte ante uma sociedade centrada nas Tecnologias da Informação e seus ambientes virtuais; pela música, com artigo que relaciona a canção “Cor de rosa?choque”, de Rita Lee, com a representação da identidade da mulher contemporânea; pela ética, questão central do jornalismo contemporâneo; pela relação entre saúde pública, cidadania e comunicação; pela Publicidade e Propaganda com objetivo de estudar o uso da gestão do conhecimento em uma agência de comunicação, e encerra com uma reflexão sobre a moda na perspectiva de fenômeno social.

Em Mulheres inatingíveis, distantes e detentoras de amores latentes: a dimensão do desejo em Luis Buñuel reiterada no grotesco e no carnaval medieval, Ricardo Zani mostra que “as estranhezas sempre estiveram presentes na filmografia de Luis Buñuel, um homem formado por contradições, que menosprezava a sociedade e a religião. Ao destacar uma galeria de estilos que se instalou na cinematografia de Luis Buñuel reafirmado os traços marcantes de sua obra – dentre os quais polifonia – o artigo se propõe a esclarecer que essa galeria reside nos discursos do cineasta quando esses se misturam e se completam. Nessa polifonia buñueliana sobressai o encontro de Um Cão Andaluz, Viridiana e A bela da tarde com a pintura Angelus, de Jean?François Millet, quando caracterizado como elemento constitutivo das reminiscências de Buñuel e do pintor Salvador Dalí. Há uma mensagem comum nas obras analisadas e que aponta para uma relação com determinadas condições medievais pesquisadas por Mikhail Bakhtin: a morte e os excrementos inseridos na renovação dos desejos sexuais do homem”.

Em Um estudo sobre a paixão do medo no cinema de horror, Odair José Moreira da Silva mostra que “o cinema de horror tem com a paixão do medo um valor estético arrebatador. Apresenta um estudo sobre a paixão do medo no cinema de horror e, com isso, mostra alguns pontos importantes na construção desse gênero, como as configurações do percurso passional e a noção de contágio que o enunciador dissemina em seu enunciado. Servindo?se das teorias do âmbito da semiótica francesa, o autor destaca: “Tais teorias terão como objeto de estudo o filme A bruxa de Blair, dirigido em 1999 por Mirick e Sánchez. Vemos no trabalho que a nervura do gênero, do ponto de vista semiótico, se funda nos percursos da paixão do medo, do relaxado ao hipertenso, e na propagação contagiosa que esse efeito de sentido deixa no enunciado.”

Em Geração Y: características de um novo ouvinte, Antônio Francisco Magnoni e Giovani Vieira Miranda apresentam “as principais características do consumo de mídia, especialmente o radiofônico, dos adolescentes que compõem a denominada Geração Y, indivíduos em formação sociocultural, educacional, psicológica e profissional sob intensa influência das culturas da informática, da comunicação audiovisual e da globalização cultural e econômica, público estratégico para pesquisas sobre recepção e cultura midiática”.

Em Ludusfera: o espaço do jogo hipermidiático, Dóris Sathler de Souza Larizzatti e Sérgio Bairon fazem uma “investigação filosófico?teórica de abordagem interdisciplinar, que objetiva propor premissas à criação de ambientes digitais em hipermídias conceituais, como comunicação integrada, visando à compreensão inaugural de conceitos. A partir de contribuições temáticas, inspiradas em várias áreas do saber e fazer, apresentam nexos teóricos, possíveis lacunas e rupturas epistemológico?científicas, como frutos de uma reflexão sistemática centrada no processo criador de ambiências digitais interativas. Discutem a construção do metaconceito de ludusfera, visto como esfera lúdica (espaço de jogo/spielraum) de integração de experiências estéticas com conhecimento científico e cotidiano hipermidiático, na perspectiva da fenomenologia hermenêutica heidegger?gadameriana”.

Em O ser mulher na música de Rita Lee: do Rosa ao choque, Nincia Cecilia Ribas Borges Teixeira e Cristiane Pawloski “relacionam letras de músicas escritas por mulheres brasileiras à transformação da condição social feminina. Mostram que com a multiplicação dos sistemas de significação e representação cultural, há uma multiplicidade desconcertante de identidades possíveis e, muitas vezes, o sujeito pós?moderno identifica?se, mesmo que temporariamente, com cada uma delas. Um dos temas predominantes na música de autoria feminina é a representação da busca de uma identidade autônoma ou a representação do conflito de identidade. Diante disso, de acordo com as discussões de Stuart Hall e de Zigmunt Bauman sobre a identidade na pós?modernidade de Stuart Hall, o artigo analisa como ‘Cor de rosa?choque’ (Rita Lee), é representada a identidade da mulher que se constitui como sujeito fragmentado e multifacetado”.

Em Mídia, jornalismo e contemporaneidade: desafios éticos num contexto de rupturas, Basílio Alberto Sartor e Rudimar Baldissera mostram “a centralidade da ética no jornalismo contemporâneo, no âmbito das relações entre mídia e democracia. Princípios deontológicos do campo jornalístico – como representar a verdade e defender o interesse público – podem ser redimensionados a partir das mudanças e rupturas culturais na pós?modernidade. A partir de reflexões sobre as mudanças socioculturais verificadas no atual contexto, a crise dos fundamentos da ética e o jornalismo produzido no âmbito das grandes organizações midiáticas, o texto evidencia desafios éticos do campo, tais como a necessidade de investir na compreensão complexa da alteridade, na atenção à multiplicidade de vozes que emergem no espaço público e na ampliação de formatos menos ortodoxos”.

Em Comunicação, saúde pública e cidadania, Cristovao Domingos Almeida, Joel Felipe Guindani e Jackson Neves apresentam os elementos teórico?metodológicos que compõem a inter?relação entre comunicação, saúde pública e cidadania. O artigo detalha as estratégias utilizadas no desenvolvimento de um Projeto de Extensão realizado com objetivo de diagnosticar a comunicação midiática como mediação entre saúde pública e cidadania no Município de São Borja (RS). A noção de cidadania condiz com a possibilidade de oferta de conteúdos midiáticos da Secretaria Municipal de Saúde à população, como: impresso, site e audiovisual. A partir da etnografia, realiza a entrada em campo, observação, coleta e diagnóstico/mapeamento quanti?qualitativo da produção e veiculação desses conteúdos midiáticos. No artigo os autores identificam a necessidade de se promover a interlocução entre comunicação, saúde pública e cidadania, enaltecendo a certeza de que a comunicação midiática é um campo estratégico, necessário, numa sociedade na qual, crescentemente, a informação e a comunicação representam capitais indispensáveis a qualquer transformação social idealizada.

Em Indicadores de processo para gestão do conhecimento: estudo de caso em uma agência de comunicação, Eduardo Luiz Cardoso, Adriano Pistore, Fabiano Larentis e Ana Cristina Fachinelli apresentam um estudo de caso sobre a gestão do conhecimento numa agência de comunicação, a partir de pesquisa de verificação dos níveis de conhecimento e habilidades proposta por Albino et al. (2001), num contexto intensivo em criação e comunicação. Os autores propõem uma métrica própria de cinco níveis de codificação do conhecimento, cada um constituído de três componentes de habilidade: os fatores de entrada (inputs), a função habilidade e as saídas (outputs). A aplicação do modelo em uma agência de comunicação permitiu observar a utilização de diferentes níveis de conhecimento em setores de características específicas.

O artigo Do Eu “coisificado” ao sujeito plural: a moda como processo de construção e ressignificações identitárias, de Maria Xavier Almeida e Jorge Luiz Oliveira dos Santos é resultado de uma atividade de extensão: “Café com Moda”, realizada semestralmente pelo curso de graduação em Moda da Universidade da Amazônia (Unama/PA). Reflete sobre a moda como fenômeno social e utiliza a poesia “Eu, Etiqueta”,  de Carlos Drummond de Andrade e Jorge Luiz Oliveira dos Santos, como dado empírico nas análises sobre cultura, consumo e identidade. O aporte teórico encontra amparo em Theodor Adorno e Max Horkheimer, para investigar a moda como elemento dinamizador da sociedade de consumo. No contraponto utiliza as bases de teóricos dos Estudos Culturais para compreender a relação do fenômeno investigativo com a categoria identidade social na sociedade contemporânea.

O fato de, lamentavelmente, termos atrasado a edição, nos permite, logo após nos desculparmos, antecipar uma notícia muito boa, no que diz respeito ao conceito qualis de Conexão – Comunicação e Cultura, que assume conceito B1 Ciências Sociais Aplicadas I; B2 Ensino; B2 Planejamento Urbano e Regional/Demografia;B3 Interdisciplinar; B4 Arquitetura e Urbanismo; B4 Ciência Política e Relações Internacionais; B5 Administração, Ciências Contábeis e Turismo; B5 Engenharias I; B5 História; B5 Letras/Linguística; B5 Psicologia. A partir de agora, redobramos esforços no sentido de qualificar nosso trabalho gráfica e editorialmente, seguros de que nessa missão nos acompanham os esforços e a dedicação de nosso dedicado corpo de pareceristas.

 

Profa. Dra. Marlene Branca Sólio

Editora

Publicado: 2014-02-04