O mistério do ser: Gabriel Marcel nos marcos de uma ontologia indireta

Resumo

Um dos traços característicos do programa ontológico de Gabriel Marcel, ao longo da sua obra, é certa atitude transcendental marcada por um gesto instintivo sui generis: o “apetite do ser”. O filósofo introduz essa metáfora associada correlativamente à outra: a “mordedura do real”. Ora, o que está em jogo nesse cenário como pano de fundo? Primeiramente, claro, uma crítica à metafísica já que o ser não se reduz, puro e simples, a título de um “problema” tradicionalmente posto, ou seja, como um “objeto” identificável criteriologicamente. Em segundo lugar, trata-se de vislumbrar outro horizonte do ser como fonte inesgotável; fonte de toda experiência real manifesta, pois, como um “mistério” incessante que, de maneira íntima e integral, me circunda, me envolve, me nutre. Para tanto, Marcel ensaia, em seus escritos, sucessivas tentativas de dar conta dessa demanda. Dentre elas, a de que o acesso a tal fonte só se opera indiretamente numa espécie de “aproximação concreta” haja vista que nossa relação com o ser não é frontal, objetiva, direta, mas lateral, alusiva, oblíqua. É, por fim, nos marcos de uma ontologia indireta que esse nível de experiência se perspectiva cujo sentido e alcance mensuraremos aqui, em linhas gerais.