BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E A CONSTITUIÇÃO DA PROFESSORA GERENCIALISTA
DOI:
https://doi.org/10.18226/21784612.v29.e024022Palavras-chave:
BNCC, Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Escolas privadas, docênciaResumo
O artigo problematiza a implementação da Base Nacional Comum Curricular na Educação Básica. É fruto de uma pesquisa que teve como objetivo geral examinar os efeitos produzidos pela implementação da Base Nacional Comum Curricular na docência dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental de escolas privadas de um município gaúcho. As bases teóricas que sustentaram esta investigação vinculam-se ao conceito-ferramenta que Michel Foucault denominou de governamentalidade, amparadas por contribuições de autores e autoras pós-estruturalistas. O material empírico constitui em enunciações de dez educadoras sobre suas práticas escolares, mobilizadas pela implementação da Base Nacional Comum Curricular nas instituições em que atuavam, no ano letivo de 2020. Essas enunciações foram obtidas por meio da realização de entrevistas individuais que, posteriormente, foram transcritas em sua totalidade. A estratégia analítica utilizada para operar sobre esse material foi a análise do discurso, como proposto por Michel Foucault. Os resultados encontrados mostram a possibilidade de constituição de uma nova professora, cujo ofício passa a ser reduzido a aprender e a ensinar habilidades e competências com interesse no “saber-fazer”, transformando-a em uma técnica que reproduz pacotes pedagógicos para atender as demandas da sociedade neoliberal. Nesse viés, o modo de ser docente gerado pela efetivação da Base Nacional Comum Curricular pode ser pensado como um sujeito incitado a ser flexível ao gerencialismo educacional que, tendo retirado-lhe a possibilidade de conhecer, planejar, traçar objetivos, definir conteúdos e escolher metodologias, vai corroborando para a destruição dos sistemas ético-profissionais que deveria prevalecer nas escolas, contribuindo para a sua substituição por sistemas empresariais competitivos.Referências
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