Processos educativos populares na/da alimentação: prática do saber e o saber da prática
Palavras-chave:
Trabalho-Educação. Relação. Memória. Mulheres. Educação Popular.Resumo
O presente artigo tem por objetivo compreender os processos educativos que emergem na/da relação entre trabalho e alimentação. Metodologicamente, resulta da análise qualitativa de dados produzidos em observações participantes e em narrativas com mulheres da região do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Desse modo, selecionamos onze registros de mulheres de diferentes municípios região, analisados a partir da codificação e decodificação das narrativas de memória, valorizando a perspectiva crítica que é própria da educação popular na/da leitura de mundo. As categorias conceituais de memória e identidade são relevantes para a compreensão da relação entre trabalho e alimentação. A memória, como objeto de estudo epistemológico, torna-se vetor de uma vivência de pertencimento coletivo e popular, revela tradições, costumes e experiências dos grupos sociais, bem como manifesta a organização das comunidades pelo seu trabalho, saberes e processos educativos que emergem no tempo e espaço vividos. Em um primeiro momento identificamos como processos educativos emergentes: a relação entre comida e saberes; a produção e manifestação de memórias partilhadas entre as mulheres; e o fortalecimento e a (re)existências de práticas alimentares. Destacamos, dessa maneira, o desvelar de práticas e saberes que se diferem em: 1) conservas, salgadas e aciduladas; 2) doces cremosos, compotas cristalizadas ou secas; e, 3) derivados dos laticínios. Portanto, neste artigo, foi possível observar que as experiências, saberes e práticas de alimentação estão relacionadas ao trabalho. Com isso, compreendemos que as mulheres ressignificam as suas memórias, de modo que “ser mulher” implica em partilha e reciprocidade, bem como em pertencimento pela consciência de saberes e práticas populares.Referências
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