Vol. 6 Núm. 11 (2007): Mídia, Cultura e Imaginário
APRESENTAÇÃO
Falar em cultura e imaginário, hoje, é “dar a cara pra bater”. Em meio a um caleidoscópio de teorias, visões, mundos, o que deve prevalecer? Qual é ou onde está a verdade? Ela existe?
Ao convidar a comunidade acadêmica a discutir o tema, pelo viés da comunicação, a idéia era justamente esta: provocar autores a nos mostrarem algumas das “imagens de seus caleidoscópios”. Dar espaço a pesquisadores, para que, mesmo arriscando-se, nos mostrassem algumas das opções, no leque de possibilidades com que nos confrontamos, para “olhar este nosso mundo”.
Para conversar um pouco com nossos leitores, retardando seu encontro com os articulistas aos quais somos imensamente gratos por terem atendido a nossa convocação, vamos a três ponderações: a primeira delas é trazer, para a noção de imaginário, as lentes de Lacan. A segunda é pedir a Morin seus óculos, e então poder olhar para a noção de cultura, e a terceira, com a qual os leitores já tiveram um encontro, é apelar para o bom humor de Dali, que, com o desdobramento de um mesmo quadro (“Rapariga à janela”, de 1925, e “Jovem virgem auto-sodomizada”, de 1954), nos mostra que a verdade está onde e como a colocamos.
Como o tempo contemporâneo (para não cair na armadilha dos muitos conceitos que se encarniçam na disputa de levá-lo à pia batismal) se caracteriza pela multiplicidade de facetas, pela complexidade (Morin) e por apontar sempre novas e inúmeras possibilidades, parece coerente que a um movimento de imersão no tecnológico se contraponha, entre outros, um olhar na direção da subjetividade, do inconsciente. Eles aparecem como pratos de uma mesma balança, a provocar o equilíbrio pela disputa/tensão. Das três categorias lacanianas, o imaginário é aquele que nasce da constituição da imagem do corpo. Como o real é sempre da ordem do impossível, o imaginário se constituirá a partir do engodo, da identificação, da imagem. Nada mais coerente, portanto, do que admitir o quanto a sociedade contemporânea se fundamenta nesse registro, valora-o e olha/desenha o mundo de mãos dadas com ele. Morin alerta: “Toda sociedade comporta indivíduos genética, intelectual, psicológica e afetivamente muito diversos, aptos, portanto, a pontos de vista cognitivamente muito variados.”1 E está justamente nesse confronto a possibilidade de trincar o determinismo cultural e estimular dúvidas, incertezas, novas buscas/descobertas.
Assim, encerrar-se numa visão míope de determinismo tecnológico ou, pelo contrário, lançar maldição eterna à tecnologia são posturas que, com certeza, nos impedem de olhar na direção do horizonte, dando-nos conta de que somos produtos e produtores de novas socialidades, de novas formas de relação, de novos usos para “velhos objetos”, mas também de velhos usos para “novos objetos”. É importante aceitarmos a premissa de que o imaginário é o oxigênio de todas as culturas.
Marlene Branca Sólio
Editora