V. 8 N. 15 (2009)
Anunciamos com alegria o lançamento de mais um número da Métis: história & cultura, prova da produtividade e qualidade dos pesquisadores acadêmicos. Apesar de pequenos contratempos, fruto das dificuldades inerentes a publicações acadêmicas nacionais, continuamos firmes e resolutos no trabalho de consolidar nossa revista como um legítimo instrumento de divulgação e comunicação da comunidade acadêmica, dentro dos princípios de sua política editorial. E estamos preparados para enfrentar os desafios que se descortinam, como o necessário ingresso no mundo digital, com a inclusão de ferramentas de consulta, preservação e aferição digitais. As providências já estão sendo tomadas, e nossas expectativas são as mais favoráveis. Para tanto, estamos contando com a colaboração da Universidade de Caxias do Sul, sempre no intuito de obter os mais qualificados índices editoriais acadêmicos. A expansão da agenda da historiografia imposta pelas transformações vividas pela disciplina História desde a segunda metade do século XX e a transposição das fronteiras disciplinares – antropologia, cinema, urbanismo, literatura são alguns exemplos – tem colaborado de maneira significativa para que novos temas e novas abordagens enriqueçam a pesquisa em história, alterando substancialmente o olhar sobre os objetos de análise. Essas transformações foram fundamentais para que os historiadores alargassem suas possibilidades de exercitar a compreensão das experiências sociais passadas e, até mesmo, as recentes. Os artigos presentes neste número são uma mostra desse fecundo momento da pesquisa historiográfica. Começamos com Adriano Comissoli que nos apresenta uma revisão crítica das leituras antropológicas e de seus cruzamentos com a história, os quais nos levam a questionar visões estabelecidas acerca das pesquisas sobre o universo luso-brasileiro, em especial, a relação entre atores sociais, a concatenação dos poderes local e central e a avaliação da ação histórica. Em seguida, Loraine Giron e Roberto do Nascimento nos mostram como Caxias do Sul, objeto maior das investigações acerca da imigração italiana no Sul do Brasil, se torna o capoluogo regional, ganhando as disputas regionais por infraestrutura desde o fim do período imperial, continuando na nascente república. Numa virada geográfica, vamos, por meio do artigo seguinte, até o Nordeste visitar as quebradeiras de coco de Petrolina, tematizadas por Raimundo dos Santos em uma abordagem que investiga os usos da memória na instrumentalização de alternativas de mudanças sociais, econômicas e culturais. Logo após, Cristiano Couto e Ana Brancher recuperam a contribuição de Carlos Quijano, pensador político latino-americano, revelando suas origens, seus diálogos e debates com outros pensadores políticos latino-americanos. Charles Sidarta e Tiago Maciel, a partir de uma fonte literária, a produção teatral de Bertold Brecht, enfrentam o tema do nazismo e suas relações na sociedade alemã. Confrontando, ou melhor, ampliando as análises quantitativas no conhecimento das populações jovens, Carina Almeida apresenta a necessária complementariedade das análises qualitativas para seus propósitos e nos leva a conhecer as possibilidades metodológicas da história oral e da técnica focus group. As permanências e os recrudescimentos da tradição conservadora da exclusão social no campo é uma característica brasileira. A análise das percepções e representações das elites agrárias sobre, ou melhor, contra os índios e os camponeses é oque nos trazem Marcos César Borges da Silveira e Edgar Gandra. Por outro lado, João Carlos Tedesco nos apresenta ao pensamento de Georg Simmel, que, apesar de muito pouco discutido entre os historiadores, é de uma instigante pertinácia em suas várias dimensões analíticas acerca da modernidade. Já Marilena Vizentin nos sinaliza que a preocupação com a formação do príncipe e a administração do poder antecedem ao muito conhecido Maquiavel. Em seu artigo estão os romanos Sêneca e Quinto Cúrcio Rufo a discutir o Estado e seu governo já no século I de nossa era. O papel da honra e os recursos para a sua defesa são apontados por José Remedi como fundamentais para o pertencimento dos intelectuais ao seu grupo social. O cinema como fenômeno da modernidade é um fato inegável, e como se dá a relação entre esse fenômeno e a história é o que é pautado por Letícia Ferreira, bem como quais são os limites dessa fonte e o que ela pode informar ao trabalho do historiador. É sempre com um estranhamento ou grande prevenção, para não dizer preconceito, que os historiadores recebem as narrativas jornalísticas da história, e esse é sempre um tema latente; quem o enfrenta é Rodrigo Bonaldo, que vai em busca das motivações dessa narrativa e de quais são as relações que têm com a narrativa histórica profissional. Não podemos encerrar esta apresentação sem registrar nosso agradecimento aos colaboradores deste número. Sem a sua qualificada participação, a revista não seria realidade. Têm o nosso sincero agradecimento os autores, sem os quais nem teríamos começado nossa empreitada; os consultores ad hoc, pela generosidade de compartilhar seu tempo e saberes; e aos membros dos Conselhos Editorial e Consultivo, pela constante prática de avaliação dos conteúdos editoriais e o incentivo na ampliação das metas da revista. Por fim, o que mais desejamos é contribuir para os debates historiográficos a partir dos textos aqui apresentados. Esperamos que os leitores nos enviem suas críticas e sugestões, assim como, pretendemos que os pesquisadores nos confiem suas colaborações para que os diálogos acadêmicos possam ser cada vez mais ampliados e qualificados. Como de praxe, desejamos ao leitor uma excelente leitura!