Um estudo do possível: desafios éticos da pesquisa empírica com vítimas de violência no sul do Brasil

Abstract

O artigo pretende discutir as possibilidades e os limites éticos na pesquisa empírica com vítimas de violência no Brasil. As reflexões foram produzidas a partir de dois percursos de pesquisas de Mestrado em sociologia. Cada pesquisa focou em um grupo de pessoas que sofreu violência no Brasil. A dissertação de Mestrado “Tenemos miedo de nosotros – construção social do medo em um conflito prolongado: os refugiados colombianos reassentados no Rio Grande do Sul” (2012) entrevistou refugiados colombianos que foram reassentados no sul do Brasil e a dissertação “Vozes no silêncio: homicídios de jovens negros em Porto Alegre e sofrimento das que ficam” (2019) entrevistou mulheres negras familiares de homens jovens negros assassinados. As duas investigações se encontram na medida em que analisam o sofrimento social dessas pessoas e manejam com um tema presente em uma sociedade desigual e violenta: o medo enquanto um mobilizador de trajetórias de vida e de resistência dos entrevistados. Os dilemas éticos que foram elencados traduzem contextos colonizados e racializados como o Sul-Americano: a construção da confiança com os interlocutores, a confidencialidade e a proteção dos dados pessoais, os silêncios ao longo do campo empírico e as dificuldades em construir a amostra de entrevistados. Ademais, discute-se também sobre o quanto condicionar a validade de uma pesquisa de acordo com o tamanho de uma amostra pode invisibilizar ainda mais contextos de extrema violação de direitos.