v. 5 n. 10 (2006)
Com este exemplar, a revista Métis: história & cultura chega ao seu décimo número, trazendo como tema do dossiê “História e poder”. No primeiro artigo, Tiago da Silva Cesar analisa o conceito de poder no pensamento de Foucault. Bruno Miranda Zétola analisa a relação entre os triunfos militares e a legitimação do poder na Antiguidade romana. Segundo o autor, os desfiles triunfais que os generais romanos faziam na cidade eterna, após suas batalhas, eram meios de narrar uma história que os glorificasse. Maristela Toma discorre sobre os aspectos legais da prática do degredo em Portugal no período moderno, apontando para as suas especificidades no contexto da construção do império colonial português. No artigo seguinte “Gênero e poder: Máximo Gorki e a nova mulher revolucionária”, Joana El-Jaick Andrade procura analisar as diversas representações da “mulher revolucionária” na obra do escritor russo, em especial no romance A Mãe, escrito em 1907, reconhecendo as transformações introduzidas na concepção tradicional de mulher. Os cinco artigos seguintes dizem respeito ao Brasil, abordando temas que vão desde o antilusitanismo, passando pela formação do estado nacional e se estendendo até 1947. No primeiro deles, “Antilusitanismo, naturalização e disputas pelo poder no Primeiro Reinado”, Martha Victor Vieira analisa as dificuldades jurídicas enfrentadas pelos legisladores, logo após a independência, para estabelecer critérios que definissem o rol dos cidadãos nacionais., bem como o acirramento da disputa pelo poder, fomentado pelo antilusitanismo. A seguir, Ricardo Antonio Souza Mendes propõe uma reflexão sobre o receio, por parte da Metrópole Portuguesa e seus representantes, de que suas possessões, no caso específico, a Capitania Geral da Bahia, estivessem ameaçadas pela força militar e pelas idéias francesas. E para tal, analisa a documentação trocada entre a Secretaria de Estado para Assuntos Ultramarinos de Portugal e o Governo da Capitania da Bahia durante a década de 1790. No artigo seguinte, Adriano Comissoli apresenta um levantamento das características biográficas dos componentes da Câmara de Porto Alegre entre os anos de 1774 e 1794, com o objetivo de reconhecer e analisar a ocupação dos cargos de governança pública, identificando sua composição social. Paulo Macedo Garcia Neto aborda a relação entre as elites político-jurídicas do século XIX e a formação de um Estado e de uma nação brasileiros, buscando mapear as diversas composições da burocracia do Império e os contornos do debate promovido por seus atores em torno do desenho institucional do País. O artigo de Ricardo Luiz de Souza busca efetuar a articulação entre o pensamento político de Gilberto Freyre e sua concepção de identidade nacional, analisando como tal concepção fundamenta e explica tal pensamento. Carla Simone Rodeghero reconstitui parte dos embates políticos que marcaram a conjuntura final do Estado Novo e o início do governo de Eurico Gaspar Dutra, tendo como cenário a cidade de Porto Alegre, partindo da análise de três processos que se desenvolveram entre 1945 e 1947: as mobilizações populares; o grande número de greves e as medidas repressivas adotadas no início do governo Dutra. Luciana Paiva Coronel propõe, em seu artigo “Representações da cultura de massa na ficção de Rubem Fonseca”, uma análise sociológica do conjunto da produção ficcional do autor, procurando evidenciar a centralidade da representação da dominação simbólica da cultura industrialmente produzida nos seus textos. Completando o dossiê, Susel Oliveira da Rosa apresenta um texto sobre “A banalização da violência no contexto biopolítico do estado de exceção”, onde procura refletir acerca dos vínculos entre política e violência, a partir da idéia de biopolítica e da vitória do animal laborans, de Michel Foucault e Hannah Arendt, retomadas pelo filósofo italiano Giorgio Agamben. Na parte reservada aos artigos, a professora Márcia Janete Espig contextualiza o debate referente a uma possível utilização de formas ficcionais para escrever história. José D’Assunção Barros desenvolve uma reflexão acerca das relações entre cidade e economia, mediadas pela História. Sérgio Alberto Feldman analisa a evolução do status feminino entre os hebreus/judeus no período do primeiro e do segundo Templos. Leandro Henrique Magalhães propõe uma discussão em torno do projeto civilizador português nos séculos XVI e XVII, em especial no que se refere à ação junto aos nativos americanos. Marisângela Martins examina o diálogo existente entre a identidade nacional e as outras identidades, utilizando o exemplo dos militantes comunistas de Porto Alegre na metade da década de 1940 e orientada pelas perguntas: como o “ser comunista” se relaciona com o “ser brasileiro”? Haveria uma sobreposição de identidades? Nesse caso, qual viria em primeiro lugar? Marcelo Squinca da Silva analisa o embate acerca do Código de Águas e suas regulamentações no segundo governo Vargas (1951-1954).
Encerrando esse número da revista Métis, o professor Cicero Galeno Lopes apresenta resenha do livro Contos sem fadas: retalhos de memória, organizado por Rosina Duarte e que reúne dezesseis narrativas de fontes orais.
Esperamos, mais uma vez, com este décimo número continuar contribuindo para o debate teórico e historiográfico em torno de novos temas e de novas abordagens sobre história e cultura. A todos os colaboradores e apoiadores o nosso agradecimento.