v. 2 n. 04 (2003): Economia Política da Comunicação e Cultura
APRESENTAÇÃO
A revista Conexão escolheu como ênfase do seu quarto número a perspectiva analítica da Economia Política da Comunicação e da Cultura. Por meio de artigos de reconhecidos especialistas na área, organizamos um recorte do fenômeno comunicacional percebido pelo viés crítico e sensível às novas formas de mediação, desigualdade e controle num tempo de obsessiva inovação tecnológica e facilidades para circulação de capitais, mercadorias e mensagens em escala planetária. A maioria dos autores deste segmento temático participa da rede de Economia Política das Tecnologias da Informação e da Comunicação (Eptic), criada em 1999, na Universidade Federal de Sergipe, iniciativa pioneira que agrega, hoje, pesquisadores nacionais e internacionais. O grupo recebeu, em 2003, o prêmio Luiz Beltrão, categoria Grupo Inovador, da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e Cátedra Unesco – Umesp.
O núcleo principal da edição abre com um texto referencial, situando a Economia Política e o pensamento crítico latino-americano no percurso dos estudos comunicacionais; configura uma panorâmica breve de seus conceitos, métodos e estratégias interdisciplinares para pensar as mudanças geopolíticas e econômicas nos sistemas culturais contemporâneos. O ensaio seguinte centra o foco nas modificações econômicas e sociológicas produzidas pelo desenvolvimento das redes eletrônicas num mercado globalizado, as novas configurações do espaço público e privado dentro da fase atual de reestruturação das economias capitalistas. O capítulo posterior, por sua vez, dá visibilidade às conclusões de uma pesquisa recente desenvolvida na Espanha sobre o impacto das novas redes digitais no conjunto das indústrias culturais. Dentro da perspectiva da Economia Política, a discussão segue enfatizando a importância do papel do receptor como um vértice dessa área de pesquisa e o quanto o investimento em sua análise pode se traduzir num encontro profícuo com os estudos culturais. A reflexão avança articulando a Economia Política com outras disciplinas do campo da comunicação, esclarecendo aspectos da esfera pública e sua relação com a cultura midiática. O caso da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), instância reguladora da indústria das telecomunicações no Brasil, é visto, a seguir, como um mecanismo reforçador do papel do Estado na sociedade. Por fim, o núcleo temático encerra com uma minuciosa abordagem crítica sobre as estratégias de produção, circulação e consumo dos discursos sobre o trabalho.
O segmento conexo dessa edição abriga dois artigos de temáticas paralelas à ênfase escolhida: o primeiro investiga os aspectos metodológicos da vigília e da inteligência estratégicas na gestão da informação, e o segundo oferece um apanhado das teorias administrativas e de sua relação com os processos comunicacionais nas organizações.
O quarto número da revista Conexão fecha com três temas convergentes e capazes de oferecer ao leitor uma reflexão sobre o conceito contemporâneo de cultura, o atual papel da memória nos processos de musealização e a discussão dos museus e de suas práticas sob a perspectiva da comunicação. Escolhemos para a capa, com ampliação no encarte especial, a série Nexos do fotógrafo gaúcho Manuel da Costa, cujo trabalho rigoroso surpreende na sua tarefa de transformar o referente num significante que desliza e descondiciona o olhar.
Cida Golin e Maurício Moraes
Editores