Morty pode morrer
liberdade radical, morte programada e subjetividade algorítmica na animação Rick and Morty como ficção especulativa
Palavras-chave:
ficção especulativa, necropolítica, Tecnopolítica, neoliberalismo radicalResumo
E se Rick Sanchez fosse real? E se sua liberdade absoluta, sua indiferença à dor e sua recusa ao vínculo não fossem exageros narrativos, mas manifestações extremas de uma subjetividade já em operação? Este artigo adota a ficção especulativa como metodologia filosófica (Uckelman, 2024) para analisar a série Rick and Morty como alegoria crítica do neoliberalismo radicalizado. A hipótese central é que Rick não representa um indivíduo disfuncional, mas o efeito sistêmico de um regime ontopolítico que dissolve o comum em nome da autonomia total. Organizado em quatro blocos interligados, o artigo parte da liberdade como eixo estruturante e analisa seus desdobramentos: a erosão do vínculo social, a necropolítica cotidiana como gestão dos descartáveis, a tecnogestão da experiência por algoritmos e, por fim, a comédia como anestesia do colapso. Em vez de sátira, a série oferece um espelho especulativo — um experimento filosófico que nos obriga a confrontar as implicações de uma liberdade desvinculada do reconhecimento do outro. Não se busca aqui uma leitura moralizante ou uma crítica sociológica convencional, mas uma intervenção conceitual: Rick and Morty não projeta uma distopia — ele reconfigura o presente. Se Rick permanece, é porque sua lógica já nos habita. E talvez a pergunta mais perturbadora não seja “e se Rick fosse real?”, mas “e se já fôssemos Rick?”.