O autoritarismo em Incidente em Antares
reflexões históricas e historiográficas sobre a relação entre literatura e a ditadura civil-militar no Brasil
Palavras-chave:
Autoritarismo brasileiro, Ditadura Civil-Militar, História e Literatura, Erico Verissimo, Incidente em AntaresResumo
Este artigo tem como objetivo analisar o romance Incidente em Antares, de Erico Verissimo, como uma crítica contundente ao autoritarismo brasileiro, especialmente no contexto da ditadura civil-militar (1964-1985). Partindo de uma abordagem histórica e literária, o estudo contextualiza a obra no cenário político repressivo da década de 1970 e reflete sobre o curioso processo de sua publicação sem censura, nesse período. Para isso, o artigo articula os conceitos de autoritarismo presentes em Sérgio Buarque de Holanda (2014) e Lilia Schwarcz (2019), explorando elementos como patriarcalismo, coronelismo e violência estrutural. A análise também examina personagens simbólicos como Quitéria Campolargo e Erotildes, representando, respectivamente, a elite opressora e as camadas marginalizadas. Por fim, o texto propõe uma hipótese alternativa para a ausência de censura à obra: a possibilidade de que o desfecho do romance — em que a ordem social é restabelecida e as denúncias dos mortos são apagadas — tenha sido lido, pelas autoridades militares, como uma validação de sua própria vitória sobre a subversão. Este artigo conclui que o Incidente em Antares permanece uma fonte literária valiosa para compreender as formas históricas de autoritarismo no Brasil.