O contrato de moçambicanos para São Tomé e Príncipe: os ziguezagues da políticacolonial portuguesa no Novecentos
Palavras-chave:
roças de São Tomé e Príncipe, importação de serviçais, trabalho forçado, ContratoResumo
Neste artigo, traça-se uma panorâmica da política colonial de depreciação da mão de obra indígena de Moçambique e da subsequente importação para as roças ou fazendas de São Tomé e Príncipe ao longo do Novecentos. Mais do que uma política coerente e perene ao longo de décadas, as decisões e os procedimentos administrativos atinentes à usura da mão de obra africana e, em particular, da de Moçambique, dependeram muito, quer da feição dos regimes políticos em Portugal - Monarquia liberal, República e Estado Novo ditatorial - quer, sobretudo, da conjuntura internacional e do escrutínio pelas potências hegemônicas das práticas de sujeição dos africanos nas colônias portuguesas. Tal obrigou os governantes portugueses a desdobrarem-se num esforço de propaganda para tentarem refutar as acusações de esclavagismo e até de trabalho forçado. Ao longo de cerca de meio século (1908-1961), a arregimentação, a contratação e a usura de braços moçambicanos - entre arrebanhados como sujeitos escravizados, deportados como indesejáveis e contratados - nas roças de São Tomé e Príncipe conheceram facetas variadas e contraditórias que não se compreenderão se não se levar em conta o contexto político a montante das práticas coloniais de uma metrópole, também ela, dependente.